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Repórteres de guerra

Homenagem a James Foley. "Vamos ter saudades tuas!"

21 ago, 2014 • José Bastos

António Pampliega, repórter de guerra espanhol, homenageia Jim Foley, decapitado pelos radicais islâmicos. De Foley, Pampliega destaca "a infinita dignidade" e diz que recordará o seu "sempre permanente sorriso".

Homenagem a James Foley. "Vamos ter saudades tuas!"
Repórter de guerra espanhol homenageia Jim Foley, decapitado por radicais islâmicos. Antonio Pampliega diz estar “bastante mal” com a morte do amigo, de quem destaca “a infinita dignidade” face a “cobardes assassinos”. De Foley fica ainda “o sempre permanente sorriso”.
“Há jornalistas que têm uma auréola especial. Jim era um desses. O seu compromisso, o seu profissionalismo e a seu humanismo faziam-no destacar-se”. O repórter de guerra António Pampliega homenageia o amigo James Wright Foley decapitado pelo grupo radical “Estado islâmico” com um texto no blog “un mundo en guerra”.

Pampliega, jornalista free-lance espanhol, coincidiu com Jim Foley em vários cenários de conflito, mas foi em 2012, na Síria, que mais lidou de perto e melhor conheceu o norte-americano. 

Foley, 40 anos, com mais de cinco de experiência em zonas de guerra, foi sequestrado em Novembro de 2012, quando trabalhava para o Global Post, baseado em Boston, e para a agência France Press. 

De acordo com testemunhos, foi capturado na província de Idlib, no norte da Síria. Em Janeiro de 2013, foi revelado que um grupo desconhecido de homens armados havia sequestrado o norte-americano. Até há poucos meses, admitia-se que Foley estava a ser retido por forças leais ao governo de Bashar Al Assad.

Em 2011, Jim Foley já tinha estado retido vários dias pelo Exército líbio quando cobria a queda do regime de Kadaffi.

À Renascença, António Pampliega indica, por e-mail, estar “bastante mal” com a notícia da morte do colega, remetendo a evocação da memória de Foley para palavras e vídeo do seu blogue pessoal.

As imagens de James Wright Foley foram filmadas por António Pampliega, em Alepo. Foram registadas dois meses antes do sequestro de Foley, no pior momento do cerco de Assad aos rebeldes. O norte-americano e o espanhol estiveram vários meses na segunda maior cidade da Síria, epicentro da revolta contra Damasco.

“Jim conseguiu ambulância de transporte de civis feridos”
Pampliega dedica à memória de Foley um texto de grande intensidade emocional, no qual destaca a “dignidade e humanidade” do norte-americano.

“Se algo marcou Jim, foi o que viu em Alepo. A guerra em toda a sua imensidade. O horror e a crueza da barbárie”, indica o jornalista. “O que Jim testemunhou levou-o a viajar uma e outra vez para o mundo não esquecer o drama vivido pelos sírios”.

“O seu compromisso levou-o a iniciar nas redes sociais – e junto dos seus colegas jornalistas – uma campanha para obter fundos que conseguissem uma ambulância para transporte de civis feridos em Alepo”. 

“Até esse momento, quase não havia ambulâncias e os feridos civis tinham de ser transportados em táxis ou em carros particulares” revela Pampliega.

“Jim tinha um compromisso com a Síria e com os sírios. Demonstrou a todos nós que o nosso trabalho está mesmo acima das nossas próprias vidas e dos nossos entes mais queridos”, acrescenta, concretizando: “Esse compromisso será sempre recordado por todos os que o conheceram. Esse compromisso, o seu carácter afável e o seu sorriso permanente”.

“Jim mostrou-nos, até no momento da morte, a sua infinita dignidade. Uma dignidade não demonstrada pelos seus cobardes assassinos. Eu retenho a imagem do meu amigo Jim a trabalhar no hospital Dar Al-Shifa enquanto documentava as misérias da guerra”, escreve ainda António Pampliega.

“De Jim recordarei sempre a sua humanidade e o seu compromisso” refere o jornalista concluindo com uma nota profundamente emocional. “Vamos ter saudades tuas, Jim. Nós os que te conheceram nunca te vamos esquecer!”