"Não há literalmente nenhum lugar seguro para os civis" em Gaza, alerta o porta-voz das Nações Unidas, Jens Laerke, numa conferência de imprensa em Genebra, durante a qual foi traçado um cenário trágico na Faixa de Gaza.
Nos últimos 15 dias, desde que começou a ofensiva terrestre israelita, quase 550 pessoas, a maioria civis e incluindo 121 crianças, perderam a vida numa zona com 360 metros quadrados e onde residem mais de um milhão e meio de pessoas.
Do lado israelita, são reportadas 29 mortes, entre as quais as de dois civis.
De acordo com a UNICEF, 900 crianças foram feridas. Jens Laerke dá ainda conta de que, pelo menos, "107.000 crianças sofreram traumas relacionado com a morte, ferimento ou perda de casa.”
Mais de 1,2 milhões de pessoas em Gaza não têm acesso ou têm acesso limitado a água, uma vez que os canais de distribuição foram danificados ou têm falta combustível para os geradores. Para piorar a situação, os esgotos começaram a inundar a cidade, levantando um grave problema de saúde pública.
Foram distribuídas refeições de emergência a mais de 90.000 pessoas durante o conflito, mas uma porta-voz do Programa Alimentar Mundial alerta para o facto de a comida começar a escassear, à medida que cada vez mais pessoas precisam de ajuda.
Com 18 instalações médicas, incluindo três hospitais, severamente danificados, também o abastecimento de medicamentos e material hospitalar “estão em sério risco de esgotar”, alerta a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Trégua humanitária canceladaPara esta terça-feira estava prevista a realização de uma nova trégua humanitária. No entanto, não se realizou uma vez que a troca de argumentos armados voltou a fazer-se sentir.
Israel fez novo bombardeamento depois do desaparecimento e presumível morte de um soldado israelita. O soldado terá sido capturado pelo Hamas este domingo. O movimento palestiniano assumiu a responsabilidade do acto mostrando uma foto de identificação e número de série da arma, sem mostrar efectivamente o militar capturado.
Entretanto, continuam os esforços diplomáticos. O secretário das Nações Unidas, Ban Ki-moon, é esperado em Israel esta terça-feira e o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, enviado por Barack Obama, encontra-se com o ministro egípcio dos Negócios Estrangeiros, no Cairo, onde vai ficar até quarta-feira.
Na crise de 2012, o Egipto foi a chave da resolução do conflito, mas agora o novo Governo do país é abertamente hostil para com o Hamas, factor que complica as negociações.
Kerry anunciou ainda que os Estados Unidos vão facultar 47 milhões de dólares (quase 35 milhões de euros) de ajuda humanitária à Faixa de Gaza.
O Hamas já manifestou a intenção de não cessar as hostilidades até que as suas exigências sejam cumpridas, nomeadamente que Israel e o Egipto levantem o bloqueio em Gaza.
É também exigida a libertação de centenas de palestinianos, detidos durante as buscas pelos três estudantes israelitas que foram posteriormente encontrados mortos.
Sem escape
Em Gaza, continuam a ver-se nuvens de fumo negro e destroços de mísseis israelitas a cair perto da costa. Milhares de pessoas tentam abandonar a zona de maior impacto, dirigindo-se a distritos mais perto da fronteira. O acesso a Israel e ao Egipto está vedado.
Cerca de 100 mil pessoas já procuraram abrigo em escolas, um número que aumentou em cinco vezes nos passados cinco dias.
O Hamas e os seus aliados dispararam "rockets" dirigidos ao sudoeste e centro de Israel fazendo disparar as sirenes de ataque aéreo em Tel Aviv. Um dos mísseis atingiu uma cidade vizinha, provocando dois feridos ligeiros.
Israel e Palestina. A que se deve a escalada de violência?