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Perguntas e respostas

Israel e Palestina. A que se deve a escalada de violência?

18 jul, 2014 • Carolina Rico (texto) e José Bastos (vídeo)

O conflito israelo-palestiniano subiu de tom. Israel lançou uma invasão na Faixa de Gaza. O que explica os confrontos?

Israel e Palestina. A que se deve a escalada de violência?
Israel e o Hamas escalam mais um degrau numa interminável cadeia de confrontos. Numa guerra sem vencedores à vista sucedem-se acusações mútuas e a indiferença internacional.

É uma estreita faixa de território banhada pelo Mediterrâneo, com o Egipto a sul e Israel a leste e a norte. A Faixa de Gaza tem vindo a ser palco de mais um episódio do já longo conflito entre israelitas e os palestinianos.

A crise actual começou com o rapto de três jovens israelitas na Cisjordânia, a 12 de Junho. Seguiram-se o lançamento de mísseis, bombardeamentos e, mais recentemente, uma invasão terrestre israelita na Faixa de Gaza.

Porquê disputar estes territórios?
A tensão começa em Jerusalém, cidade-santa para três grandes religiões, judaísmo, cristianismo e islamismo.

Capital declarada de Israel, Jerusalém é a Terra Prometida e a sua soberania é reclamada tanto por Israel como pela Autoridade Palestiniana.

Enquanto os judeus têm no Muro das Lamentações, em Jerusalém, o seu lugar mais sagrado, para os muçulmanos, a Mesquita de Omar é terceiro lugar sagrado do Islão, depois de Meca e Medina.

A proximidade destes lugares de culto deu origem a uma tensão que dura há centenas de anos.

Como está dividida a Faixa de Gaza?
No século XIX, o movimento sionista reivindicou o direito do povo judeu a uma pátria. No início do século XX, aquando o desmoronar do Império Otomano, são redesenhadas as fronteiras de todo o Médio Oriente.

O Estado de Israel surge dessa divisão, mas nunca foi aceite pelos estados árabes da região, que acabariam por ver os seus exércitos derrotados na guerra que se seguiu à formação do Estado.

Por decisão das Nações Unidas, o território da Palestina foi então dividido em dois estados, um para os judeus, outro para os árabes.

Os líderes israelitas, encabeçados por David Ben-Gurion, decidiram aceitar a partição e proclamaram o novo Estado de Israel. Mas, mais uma vez, os árabes da Palestina tentam reivindicar todo o território – sem sucesso.

No plano de partição das Nações Unidas (1947) a Faixa de Gaza era entregue ao novo estado árabe a criar na Palestina, mas, depois da guerra de 1948, acabou por ficar sob jurisdição egípcia até à Guerra dos Seis Dias de 1967.

Israel e o Egipto assinam os acordos de paz de 1979 e, por decisão unilateral promovida pelo então primeiro-ministro Ariel Sharon, em 2005, Israel retirou-se completamente da Faixa de Gaza.

Actualmente, a Autoridade Palestiniana está dividida em duas. Na Faixa de Gaza o poder é do Hamas, enquanto na Cisjordânia continua a ser controlado pela Fatah.

O que é a Fatah?
A Fatah é a maior organização militante da Organização de Libertação da Palestina.

Criada em 1964 por decisão da Liga Árabe, o objectivo desta organização era representar os palestinianos na luta pela criação de um Estado árabe que ocupasse as fronteiras da Palestina, enquanto a existência de um Estado judaico era explicitamente negada.

Nos primeiros anos, várias das organizações filiadas na Organização de Libertação da Palestina recorreram à luta armada.

O Fatah continua a desempenhar um papel central na vida política, uma posição que o Hamas começou a contestar, sobretudo na Faixa de Gaza.

O que é o Hamas?
O Hamas foi fundado em 1987 numa altura em que o fundamentalismo islâmico ganhava terreno em todo o Médio Oriente. A sua criação esteve ligada a um dos grupos fundamentalistas mais fortes e antigos do mundo, a Irmandade Muçulmana do Egipto.

O braço armado do Hamas (considerado uma organização terrorista por Israel e por vários governos mundiais) continua a recorrer à luta armada como forma de combater contra Israel.

A principal base do Hamas é na Faixa de Gaza, onde goza de apoio maioritário. É neste território que disputou sucessivamente o poder com a Fatah, tendo expulsado a organização do território.

O que se fez pela paz?
Os Acordos de Oslo (1993), assinados por Isaac Rabin e Yasser Arafat, previam uma retirada gradual de Israel da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, e a transferência gradual da soberania para a Autoridade Palestiniana.

Num prazo de cinco anos, esperava-se que as duas partes chegassem a um acordo de paz definitivo. Quando tudo correu mal, ambas as partes culpam a outra.

No final da década, sob mediação de Bill Clinton, houve um novo esforço para se chegar a acordo. Quando Arafat recusou o que se dizia ser um acordo irrecusável, bastaram dois meses para que região voltasse a mergulhar num clima de violência.

Pouco se tem avançado no processo de paz. Com Ariel Sharon e Abbas houve avanços, mas depois surgiu o conflito entre o Hamas e a Fatah.

Como começou o conflito deste Verão?
A actual crise começou com o rapto de três jovens israelitas na Cisjordânia, a 12 de Junho. Os seus corpos mutilados foram descobertos dias depois. Acredita-se que o rapto e o assassinato tenham sido perpetrados por uma facção ligada ao Hamas. Os responsáveis ainda não foram descobertos.

No dia seguinte, um jovem palestiniano foi também raptado e morto às mãos de um grupo de seis jovens extremistas israelitas, que foram detidos pelas autoridades.

De imediato, o Hamas disparou mais de 100 mísseis contra território de Israel. Como resposta a este ataque vindo da Faixa de Gaza, Israel lançou uma nova operação contra aquele território, visando atingir as infra-estruturas que suportam o disparo de "rockets" e mísseis.

Desde o início do mês já foram disparados contra o território de Israel centenas desses projécteis, muitos dos quais têm sido travados pelo sistema de defesa israelita, conhecido como "Iron Dome" (Cúpula de Ferro).

Os bombardeamentos israelitas, por outro lado, instauram o caos na Faixa de Gaza, em cujos 360 quilómetros quadrados residem mais de um milhão e meio de pessoas. Desde o início do conflito já morreram aqui centenas de pessoas. A grande maioria eram civis.

Por que é que Israel lançou uma nova ofensiva terrestre em Gaza?
Nos últimos anos, o exército israelita tem intervindo na Faixa de Gaza para conter o contínuo rearmamento do Hamas.

O contrabando de armas através da fronteira de Gaza, em especial através de túneis que os egípcios não conseguem controlar, nunca terminou.

Estes túneis são uma das escassas formas de passar a fronteira, visto que a Faixa de Gaza está limitada por uma vedação permanentemente vigiada pelo exército israelita.

Na noite de 17 para 18 de Julho, Israel lançou uma ofensiva terrestre com o objectivo de destruir uma infra-estrutura de túneis com a qual o Hamas e outras organizações estariam a tentar infiltrar o território de Israel.

Ao mesmo tempo, os soldados que estão no terreno tentam destruir as rampas de lançamento de mísseis e "rockets" que não podem ser destruídas do ar. Até esta missão estar completa, as forças armadas isrealitas dizem que um cessar-fogo está fora de questão.

Em Gaza, as bombas, provenientes de ataques aéreos e bombardeamentos de tanques, deixam um rasto de destruição e morte com uma frequência diária, dificultando o acesso a cuidados de saúde e bens de primeira necessidade.