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Rússia e Crimeia assinam tratado de adesão. Putin deixa avisos ao Ocidente

18 mar, 2014

Presidente russo diz que as ameaças de sanções vindas dos Estados Unidos e da União Europeia podem ser vistas como um acto de agressão e merecer uma retaliação por parte de Moscovo.

Rússia e Crimeia assinam tratado de adesão. Putin deixa avisos ao Ocidente
O Presidente russo, Vladimir Putin, e dois líderes da Crimeia assinaram esta terça-feira o tratado que torna a península do Mar Negro parte da Rússia.

A assinatura aconteceu no Kremlin e dois dias depois de os crimerianos terem votado, de modo expressivo, pela integração da região ucraniana na federação russa. A consulta popular foi condenada pelos países do Ocidente e os Estados Unidos e a União Europeia consideraram-na ilegal.

Para estar completa, a integração da Crimeia precisa agora da aprovação do Parlamento russo, onde hoje já discursou Vladimir Putin.

O Presidente russo considera que a Crimeia uma região de vital importância para a federação e que sempre esteve emocionalmente ligada à Rússia. “Tem uma importância histórica para nós”, afirmou Putin, depois de uma ovação de pé no Parlamento, na sequência da aprovação do esboço do tratado de adesão.

“Nos corações e mente das pessoas, a Crimeia sempre foi inseparável da Rússia”, prosseguiu, considerando que o compromisso atingido “é baseado na justiça e na verdade”.

Vladimir Putin sublinhou, assim, num discurso de desafio ao Ocidente, os laços culturais e históricos existentes entre a Rússia e a região dada à Ucrânia pelo líder soviético Nikita Khrushchev, em 1954.

A península do Mar Negro é um lugar sagrado para a Rússia, afirmou, mas sublinhou também que as três principais línguas faladas na região – russo, ucraniano e tártaro - vão ter direitos iguais.

Putin criticou ainda os novos líderes de Kiev, dizendo que se tinham aberto caminho aos “neo-nazis”.

“Esses que estiveram por trás dos mais recentes acontecimentos prepararam um golpe de Estado. Mais um. Planearam tomar o poder e nada os deteve. Ataques violentos, crimes e terrorismo foram os meios utilizados”, acusou, classificando-os de “nacionalistas, neo-nazis, russófobos e anti-semitas”.

“São eles que agora decidem o futuro da Ucrânia. As alegadas novas autoridades ucranianas introduziram uma escandalosa lei que retira direitos às minorias, sobretudo no que à língua diz respeito”.

Na segunda-feira, Vladimir Putin assinou o decreto que reconhece a Crimeia como um estado independente. Hoje, no seu discurso no Parlamento, o Presidente russo foi interrompido várias vezes por aplausos da plateia, que tinha membros do Kremlin, empresários e o primeiro-ministro da Crimeia, Sergei Aksyonov.

Sanções são acto de agressão
Vladimir Putin avisou esta terça-feira os Estados Unidos e a União Europeia que as sanções anunciadas e decorrentes da tomada da Crimeia pela Rússia são vistas como um acto de agressão, a que Moscovo vai responder com retaliações.

Outra resposta às sanções ocidentais chegou dos deputados do parlamento russo, que desafiaram os Estados Unidos e a União Europeia a aplicar as mesmas sanções a todos os membros da Câmara baixa russa.

Na segunda-feira, os Estados Unidos anunciaram sanções contra todos quantos ameaçam a democracia e a integridade da Ucrânia, tendo identificado 11 altos responsáveis ucranianos e russos. Do grupo fazem parte dois conselheiros de Vladimir Putin e o Presidente ucraniano deposto, Viktor Yanukovitch.

A ordem assinada por Barack Obama congelou activos destes indivíduos nos Estados Unidos e impede a sua entrada no país.

Da parte da União Europeia, foram adoptadas sanções contra 21 pessoas consideradas responsáveis pela integração da república autónoma ucraniana da Crimeia na Rússia. As sanções incluem restrições de viagem e congelamento de bens.

Quem não ficou satisfeito com estas sanções foi o Reino Unido. Em declarações à BBC, Malcolm Rifkind, que lidera a comissão de inteligência e segurança do parlamento britânico, considera as sanções impostas à Rússia “patéticas” e que os líderes ocidentais devem ter a coragem de endurecer a sua posição em relação a Vladimir Putin, impondo a Moscovo sanções financeiras muito mais robustas.