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Putin admite intervenção militar na Crimeia mas será "último recurso"

04 mar, 2014

Presidente da Rússia diz que não um Governo legítimo em Kiev e por isso não há ninguém com quem dialogar.

Putin admite intervenção militar na Crimeia mas será "último recurso"
O presidente russo, Vladimir Putin, não exclui uma intervenção militar na Crimeia, mas garante que essa opção será usada apenas em “último recurso”, que se justificará caso a população local precise do auxílio russo. Em conversa com jornalistas, realizada na cidade de Novo Ogaryovo, Putin falou também do presidente deposto Viktor Yanukovich, afirmando que ainda é o chefe de Estado legítimo do país e que não aceitará o vencedor de qualquer eleição realizada “num clima de terror”.
O presidente russo, Vladimir Putin, não exclui uma intervenção militar na Crimeia, mas garante que essa opção será usada apenas em “último recurso”, que se justificará caso a população local precise do auxílio russo, nomeadamente a população das regiões orientais e do sul, que são tradicionalmente mais próximas da Rússia em termos culturais, linguísticos e étnicos.

Putin continua a afirmar que os homens bem armados e equipados que tomaram o poder na Crimeia são membros das “forças de auto-defesa”, formadas por cidadãos pró-russos, e não soldados das suas forças armadas. Isto apesar de vários desses soldados, que usam fardas sem identificação mas são transportados em veículos com matrícula russa e têm armamento russo, terem confessado aos jornalistas que vêm da Rússia. 

Em conferência de imprensa, Putin falou também sobre a hipótese levantada pelos Estados Unidos e União Europeia em aplicar sanções ao país. O presidente russo garante que essas ameaças são “contraprodutivas e prejudicais”.

Vladimir Putin abordou também o boicote ao encontro do G8, que está previsto para Junho na cidade russa de Sochi, anunciado por estados ocidentais como os EUA, França e Reino Unido. Putin garante que a Rússia está preparada para avançar com a reunião, mas que se “os líderes ocidentais não quiserem vir, que não venham”.

Na conversa com jornalistas, realizada na cidade de Novo Ogaryovo, Putin falou também do presidente deposto Viktor Yanukovich, que era pró-russo e se encontra actualmente em Moscovo. Putin começou por negar boatos de que Yanukovich teria morrido de ataque de coração, dizendo que esteve com ele há dois dias. Afirmou também que o ex-presidente da Ucrânia ainda é o chefe de Estado legítimo do país mas que foi obrigado a fugir do país, pois se lá continuasse seria assassinado. Contudo, o líder russo nega que o seu país tentará voltar a colocar Yanukovich no poder, com Putin a dizer que falou com ele e lhe disse que já não tinha qualquer futuro político.

Vladimir Putin recusa assim aceitar a legitimidade do Governo ucraniano, que resultou de um “golpe inconstitucional”. Segundo o presidente russo não existe nenhum presidente legítimo em Kiev, pelo que não há ninguém com quem negociar. Mais, Putin insiste que não aceitará o vencedor de qualquer eleição realizada “num clima de terror”, dando claramente a entender que não há abertura para negociações com a actual classe política de Kiev. A Rússia continua a insistir que há forças "neo-nazis e anti-semitas" a dominar partes da Ucrânia.

Putin falou ainda da dívida da Ucrânia para com Moscovo. A Rússia fornece gás natural ao país e até à queda de Yanukovich estava efectivamente a apoiar financeiramente o Governo de Kiev. O fornecimento de gás era feito com desconto, em troca da permanência de bases russas na Crimeia, mas Moscovo já veio dizer que não vê razões para manter esse acordo. Segundo Putin, se a conta de gás de Fevereiro não for paga por inteiro a Ucrânia deverá 1,5 mil milhões de euros. Esta terça-feira chega a Kiev uma delegação do FMI para avaliar as possibilidades de um resgate.

A actual situação na Ucrânia resulta directamente da deposição do Governo de Yanukovich pelos manifestantes pró-europeus na Praça da Independência, em Kiev, em Janeiro. A situação deixou desconfortáveis grandes partes da Ucrânia oriental, que se sentem mais próximas da Rússia ou que, nalguns casos, são habitadas em maioria por pessoas de etnia russa.

A Crimeia é um exemplo. A esmagadora maioria da população da península autónoma é de etnia russa e poucos dias depois da queda do Governo de Kiev manifestantes pró-russos tomaram a sede do Governo regional, expulsaram os deputados pró-ucranianos e fizeram eleger um novo primeiro-ministro da região. Sergei Aksenov pediu imediatamente apoio a Vladimir Putin, ordenando também todas as forças ucranianas no território a obedecer-lhe directamente a ele e não a Kiev.

A partir de sexta-feira dia 28 de Fevereiro militares não-identificados começaram a tomar conta da maioria dos pontos estratégicos da região. As tropas, claramente russas, cercaram também as bases militares ucranianas, exigindo a sua rendição, o que não se consumou. Essas bases continuam cercadas mas, apesar de alguns momentos de tensão, não tem havido troca de tiros.


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