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Regressada a calma a Kiev, tensão instala-se na Crimeia

26 fev, 2014

Situação é preocupante para o novo governo, porque a maioria russa na Crimeia pode, agora, reivindicar a separação e integração na Rússia.

Regressada a calma a Kiev, tensão instala-se na Crimeia
Milhares de manifestantes enfrentaram-se, esta quarta-feira, junto ao parlamento regional da Crimeia, após os últimos desenvolvimentos na Ucrânia, levantando o espectro de uma eventual separação ou intervenção russa na zona.

A Crimeia, junto ao Mar Negro, é sede de um porto naval russo de extrema importância para Moscovo e é a única região da Ucrânia em que a maioria da população é de etnia russa.

A península tem sido disputada ao longo dos séculos. Foi invadida pelos nazis, na II Guerra Mundial, e, depois, integrou o regime Soviético. Contudo, em 1954, foi transferida por Nikita Kruschev para a esfera da Ucrânia. 

A população nativa não é ucraniana nem russa: os tártaros são, actualmente, minoritários na Crimeia, tendo sido expulsos em massa pelos sucessivos governos russos, em particular, pelo regime soviético, por suspeita de simpatias e colaboração com os Nazis.

Os primeiros dois mil manifestantes a chegar ao parlamento regional eram, na maioria, tártaros, que foram expressar a sua solidariedade com os manifestantes pró-europeus de Kiev. Mas, em pouco tempo, uma contra-manifestação pró-Russa já tinha reunido mais pessoas, que abafaram os cânticos e gritos de ordem dos tártaros com músicas tradicionais russas e gritos contra os “bandidos” que tinham tomado o poder em Kiev.

Um manifestante tártaro, ouvido pela agência Reuters, afirmou que o seu povo não esquece o que sofreu às mãos da Rússia: "Temos uma longa memória do que os russos nos fizeram. Agora, somos uma minoria na nossa terra, por causa deles. Lutámos mais vezes ao lado dos ucranianos do que contra eles, a nossa lealdade está com Kiev".

Um jovem russo presente na manifestação respondeu: "Agora, os tártaros são nossos inimigos. Estão ao lado dos bandidos de Kiev. Se não nos defendermos, vai ser o caos".

A situação é preocupante para o novo governo da Ucrânia, porque a maioria russa na Crimeia pode, agora, reivindicar a separação e integração na Rússia. O facto de os desenvolvimentos estarem a acicatar rivalidades étnicas também pode levar à violência e, sobretudo, existe a ameaça de uma intervenção de Moscovo, sobretudo, se parecer que a população russa está de alguma forma em perigo.

A preocupação é acentuada pelo facto de em 2008 Putin ter ordenado a invasão de zonas da Geórgia habitadas maioritariamente por pró-russos, que, depois, se tornaram repúblicas independentes sob a protecção de Moscovo.

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