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Perguntas e respostas

O que explica a crise na Ucrânia?

20 fev, 2014 • Pedro Rios

A crise começou em Novembro, com a rejeição de um acordo entre Kiev e Bruxelas, e não tem fim à vista.

O que explica a crise na Ucrânia?

Os protestos começaram em Novembro nas ruas de Kiev, depois de uma rejeição de um acordo económico com a União Europeia, mas alargaram-se a outras cidades. As razões dos protestos também aumentaram: para além da aproximação à União Europeia, os manifestantes exigem uma mudança na constituição e uma redução dos poderes do Presidente Viktor Yanukovych.

Por que é que os ucranianos protestam nas ruas?
A 21 de Novembro de 2013, o Presidente Viktor Yanukovych rejeitou um acordo histórico com a União Europeia, que previa mais cooperação económica. Yanukovych preferiu apostar no reforço dos laços de cooperação com a Rússia, que prometeu um apoio de 11 mil milhões de euros traduzido na compra de dívida pública.

A decisão de Yanukovych surpreendeu a UE e muitos ucranianos. Descontentes com a opção e exigindo mais democracia, milhares de pró-europeus saíram às ruas e ocuparam a Praça da Independência em Kiev. Muitos lá permanecem desde então. As enormes manifestações de Novembro e Dezembro do ano passado, com centenas de milhares de pessoas, foram comparadas à Revolução Laranja, de 2004 e 2005. 

O que levou Yanukovych a escolher a Rússia em vez da UE?
O Presidente, que subiu ao poder em 2010 (numas eleições fraudulentas, acusou a então primeira-ministra Yulia Tymoshenko), cedeu às pressões russas. Moscovo opunha-se à aproximação de Kiev ao bloco europeu e ameaçou o seu vizinho com sanções económicas e um aumento dos preços no gás natural russo. Se optasse pela aproximação à Rússia, Kiev teria grandes descontos na factura do gás, prometeu a administração Putin. 

A que se deve o aumento da violência?
Vários acontecimentos levaram a que as posições se extremassem. Registaram-se episódios de violência excessiva usada para conter protestos de estudantes. Activistas foram raptados ou espancados. Em Janeiro, o governo fez leis que restringiriam os protestos (a legislação seria, mais tarde, revogada). Yanukovych atira as culpas da violência para os manifestantes. Os confrontos com a polícia fizeram as duas primeiras vítimas mortais a 22 de Janeiro. 

Por que é que as conversações entre governo e oposição falharam?
O que começou por ser um protesto a favor da aproximação à UE tornou-se uma luta por uma mudança global no governo e uma mudança na Constituição, que dê mais poderes ao Parlamento e menos ao Presidente. Em Janeiro, Yanukovych fez uma oferta à oposição, que passava por fazer do dirigente oposicionista Arseni Iatseniuk primeiro-ministro e criar um grupo de trabalho para rever a Constituição. Mas a oposição rejeitou a proposta, considerando que Yanukovych manteria a sua forma de governar. A 17 de Fevereiro, a situação parecia ter acalmado, mas a violência voltou, ainda com mais força, dois dias depois: Yanukovych continuou a não abrir mãos dos seus poderes, que a oposição diz serem excessivos. 

Quem são as principais figuras da oposição?
A figura mais conhecida é Vitali Klitschko, líder da Aliança para a Reforma Democrática Ucraniana. Arseni Iatseniuk, líder do partido Batkivshchina (Pátria), é o segundo principal rosto da oposição. Mas há também que ter em conta Oleg Tiahnibok, dirigente do partido nacionalista Svoboda (Liberdade), classificado por vários analistas como sendo de extrema-direita.

As sanções da UE e dos Estados Unidos podem resolver o problema?
Bruxelas e Washington ameaçam com sanções económicas e os Estados Unidos já decidiram cancelar os vistos de 20 governantes ucranianos, medida também equacionada pela União Europeia. A Rússia criticou a hipótese de sanções vindas do Ocidente e, segundo alguns analistas, pode compensar as consequências de sanções financeiras. 

A Ucrânia pode entrar em incumprimento de pagamentos (default)?
"No futuro próximo, os riscos [de default] não são altos porque a Rússia continua a ajudar e a oferecer financiamento”, disse o economista russo Vladimir Osakovskiy, do Bank of America Merrill Lynch, à CNN. A Rússia já terá libertado 3,6 mil milhões de euros dos 11 mil milhões prometidos em compra de dívida ucraniana.

Para além da escolha entre UE e Rússia, há outras questões a dividir os ucranianos?
As divisões na Ucrânia são agravadas também por factores linguísticos, geográficos e religiosos. Os ucranianos vivem no Leste do país falam russo, pertencem à Igreja Ortodoxa Russa e sentem-se próximos de Moscovo. Já a maioria dos ucranianos que vivem na parte ocidental do país falam ucraniano, são fiéis da Igreja Ortodoxa da Ucrânia ou Católicos de rito bizantino e sentem-se mais próximos do Ocidente.