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Os segredos do tráfico internacional de droga

18 fev, 2013 • Celso Paiva Sol

Engenho dos traficantes parece não ter limites e usam de tudo para esconder e transportar droga. Conheça o caso de um português detido no aeroporto de Atenas.

Os segredos do tráfico internacional de droga
Escondida em tapetes, diluída em bebidas e perfumes, impregnada em peças de roupa, ou simplesmente transportada em forma de bolotas no interior do organismo de correios humanos. A reportagem da Renascença V Mais revela os segredos das grandes redes de tráfico internacional para o transporte de droga por via aérea. Portugal é cada vez mais ponto de passagem para este tipo de tráfico : só no ano passado foram detidos nos aeroportos portugueses 182 correios de droga, de 28 nacionalidades diferentes
No ano passado, foram detidos nos aeroportos nacionais 182 correios de droga e apreendidos quase 600 quilos de cocaína. Em ambos os casos, os dados apurados pela Renascença revelam uma diminuição face ao ano anterior, mas as autoridades não acreditam que os traficantes estejam a desistir daquilo a que se chama "microtráfico".

Por força das ligações históricas ao outro lado do Atlântico, os aeroportos portugueses e espanhóis são dos mais usados como porta de entrada na Europa, ainda que, muitas vezes, não sejam o destino final da cocaína. Este tipo de tráfico vive de correios humanos – pessoas que, a troco de alguns milhares de euros, aceitam transportar a droga na bagagem ou no interior do organismo.

O engenho dos traficantes parece não ter limites e de tudo vai sendo encontrado para esconder e transportar droga: diluída em bebidas ou noutros líquidos como perfumes e champôs, impregnada em peças de roupa, escondida – quase como se tivesse sido embutida – em fruta, esculturas, pedras ornamentais e peças automóveis.

Há ainda os esquemas mais tradicionais, como os fundos falsos das malas, que representam 43% do total, os cintos e as cintas amarradas ao corpo, que são mais de 15% dos casos, e o interior do organismo, com a ingestão das chamadas "bolotas", que são hoje 18% das situações.

Em trânsito por todo o mundo, há correios das mais variadas nacionalidades, mas são cada vez mais os portugueses aliciados, talvez por causa da localização privilegiada de Portugal. No ano passado, dos 182 passageiros apanhados, 60 eram portugueses, 30 espanhóis, 22 brasileiros, 14 venezuelanos e oito bolivianos. No total, foram apreendidos 585 quilos de cocaína e cinco de heroína nestes casos.

Piores são os números dos correios portugueses detidos em aeroportos internacionais: 145 no ano passado, quase 200 em 2011. Hernâni Sousa é um deles. Foi detido em Setembro de 2010, quando aterrou em Atenas com 125 gramas de haxixe na bagagem (droga que tinha comprada em Marrocos, durante a passagem por um festival de música). A sua vida mudou e mostra um arrependimento proporcional ao medo que diz sentir todos os dias [saiba mais no vídeo que está no topo do texto].

Menos detenções não significa menos tráfico
Apesar de os números revelarem uma diminuição de detenções e apreensões face ao ano anterior, as autoridades não acreditam que os traficantes estejam a desistir deste tipo de tráfico, mas sim a desenvolver métodos cada vez mais criativos. As autoridades internacionais acreditam mesmo já ter traçado o perfil do micro-ráfico.

Na cúpula dirigente, quase como se de uma multinacional se tratasse, estão colombianos, sendo que a Colômbia continua a ser, de longe, o maior produtor de cocaína. Os brasileiros também têm um papel importante e encarregam-se de colocar a droga nos pontos ideais de partida, com São Paulo a ser hoje a principal plataforma.

Os nigerianos têm células espalhadas por toda a Europa e a responsabilidade de toda a logística do tráfico, desde o recrutamento de correios até à distribuição pelas pequenas e médias redes de cada país.