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Portugueses participam em projecto "megalómano" sobre o cérebro

28 jan, 2013

Investigador da Fundação Champalimaud considera que o projecto pode vir a valer um prémio Nobel e abrir portas à cura de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. Bolsa atribui 1,2 mil milhões de euros durante 10 anos.

A Comissão Europeia anunciou, esta segunda-feira, que o “Projecto do Cérebro Humano” (Human Brain Project), realizado por 80 instituições, incluindo a portuguesa Champalimaud, é um dos dois vencedores de uma iniciativa europeia para desenvolver a ciência moderna.

O projecto visa perceber o cérebro humano reconstruindo-o, peça por peça, através de modelos e simulações produzidas por um supercomputador.

Para o levar a cabo foram contratados mais de 200 investigadores, entre os quais se encontram Rui Costa e Zachary Mainen, do Programa de Neurociência da Fundação Champalimaud. Rui Costa classificou o estudo como "megalómano" e explicou que poderá ser uma das grandes realizações científicas da humanidade.

“Mais do que armazenar dados, [o objectivo] é usar esses dados para criar modelos de um cérebro humano num computador para se estudar como funciona", acrescentou o investigador principal do programa de neurociências da Fundação Champalimaud.

O cientista português explicou ainda o interesse prático da iniciativa: "Imagine-se que se consegue construir uma máquina como o cérebro com as suas partes fundamentais. Depois é possível perguntar o que acontece quando há Alzheimer, o que acontece se se tiver um AVC e como é que se pode recuperar", esclareceu.

Se o estudo correr bem e as respostas forem sendo conseguidas, Rui Costa acredita que o projecto possa valer um prémio Nobel ou até mais. "É um projecto tão grande e tão ambicioso que, se se encontrarem as respostas, claro que vale um prémio Nobel, mas se calhar vale muito mais: passa a ser uma das grandes realizações científicas do ser humano", defendeu.

Inovação pode ser mais valia para Portugal
"Este projecto é, por um lado, fácil de criticar, porque é um projecto megalómano, de grande investimento. Mas por outro lado, sem haver projectos ambiciosos para tentar saber o que é o sistema nervoso do cérebro, é muito difícil chegarmos realmente ao conhecimento necessário para intervir nalgumas doenças", lembrou Rui Costa.

Para o investigador, "a Europa não tem muitos recursos naturais como petróleo, portanto a maioria do crescimento económico tem vindo da inovação" e "criar mais-valias tecnológicas pode ser uma forma de sair da crise".

A participação de cientistas portugueses em projectos científicos desta envergadura é também vista pelo investigador como uma mais-valia para Portugal.
O país "também gera riqueza através de inovação e o facto de haver muito fundos europeus a entrar em Portugal através de bolsas competitivas é quase como exportação de conhecimento", concluiu Rui Costa.


O projecto deverá decorrer durante 10 anos e terá um financiamento estimado em 1,2 mil milhões de euros, atribuídos por um consórcio maioritariamente europeu, mas também constituído por quatro instituições: École Polytechnique Fédérale de Lausanne, Universidade de Heidelberg, Centre Hospitalier Universitaire Vaudois e a Universidade de Lausanne.

Além disso, a iniciativa poderá contar ainda com parceiros de instituições norte-americanas e japonesas.