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Numismática

Há gente a vender raridades e até moedas para derreter

11 jan, 2013

Moedas, moedas e mais moedas. Se a colecção vale mais que o metal, a numismática acontece. Todavia, as dificuldades económicas têm invertido esta realidade. Há quem não tenha escolha e se esteja a desfazer de raridades. Por vezes, para derreter.

Há gente a vender raridades e até moedas para derreter

Na dominical Feira de Numismática da Praça D. João I, no Porto, o negócio de quem vende, compra e até de quem troca está mais fraco. Quem passa por lá, para tentar vender o que tem em casa, por causa da crise, nem sempre consegue fazer dinheiro. Outras vezes vende a muito baixo preço.

Carmindo Martins Domingos é dos mais antigos na Feira de Numismática da Praça D. João I. Garante, à Renascença, que o negócio já viveu melhores dias. Há um ano que vê o volume de vendas a diminuir. Desde então, surgiu uma nova realidade: “Agora, nem tanto, que isto também vai acabando. Há ano e meio, aparecia muita gente a vender as moedas portuguesas em prata. Valiam mais pela prata do que pelo seu valor numismático e houve muita gente que se desfez das moedas só por essa situação".
 
Carmindo revela, ainda, outra forma que algumas pessoas encontraram para fazer dinheiro: “Vendem-se muitas, também, para derreter". Com o elevado valor da prata “há uns meses, compensava derretê-las. Venderam-se quilos e quilos de moedas”, para fundir, explica.

Dinis Mesquita é um apaixonado pela numismática. Ex-bancário, desde cedo ganhou uma afeição especial por moedas antigas. Há mais de 30 anos que faz a feira da D. João I e, tal como Carmindo, confirma situações desesperadas de venda forçada de peças antigas. Porém, quando a peça é demasiado valiosa, Dinis Mesquita opta sempre por não fazer negócio. “Muita gente está a desfazer-se de bens, de grandes valores. Às vezes, até tenho imensa pena das pessoas se estarem a desfazer de peças muito bonitas e raras, a preços muito baixos”, lamenta. “Mas eu, por princípio, não compro. Não quer dizer que os outros colegas não o façam, mas eu não compro”.

"Acham que têm uma uma fortuna em casa"
Paulo Oliveira está há cerca de sete anos na Feira de Numismática. Menos tempo é, contudo, suficiente para perceber ao que os tempos de crise levaram as pessoas. Querer fazer dinheiro o mais rápido possível faz com que, por vezes, cheguem à feira pessoas que tentam vender moedas e notas sem qualquer valor.

Paulo pouco pode fazer pelos vendedores mais desesperados, senão informá-los. “Normalmente, acham que têm uma mina, que têm uma fortuna em casa. Vêm cá com uma nota que tem 20 anos e dizem que é uma nota antiga. E nós estamos aqui para informar as pessoas”. Por via disso, garante, é muito raro fazer-se uma compra que possa ser considerada de grande valor.

Apesar dos tempos complicados, Carmindo Martins Domingos revela que é mais fácil desfazer-se das moedas mais caras que das mais baratas. “Ainda aparecem pessoas para comprar. É mais fácil vender uma moeda dessas, muito caras, do que vender moedas baratas. É mais difícil, agora, vender à classe média aquelas moedas que custavam 20 ou 30. Para uma moeda muito rara há sempre comprador. Repare: há leilões de casas especializadas e as moedas mais caras desaparecem todas”.

A Internet mudou o negócio
Com a introdução da Internet no negócio, surgiu um maior intercâmbio entre coleccionistas. Os entusiastas da numismática estão mais bem preparados e com acesso a mais informação sobre o que compram. Apesar de, por vezes, o comércio online estar associado a alguma desconfiança, há já sítios na net onde os incumpridores constam de listas negras.

A migração para a Internet fez o negócio aumentar. Cresceu, também, a procura de moedas portuguesas por parte de cidadãos estrangeiros. A Feira da Praça D. João I ressente-se dessa nova abordagem ao negócio. Porém, há também quem passe por lá para comprar e depois colocar à venda online.

Apesar das novas tecnologias terem ocupado um lugar privilegiado no negócio associado à numismática, a Feira da Praça D. João I, no Porto, continua a ser uma forte referência na hora de decidir sobre o valor coleccionável/numismático e o valor de mercado de uma moeda antiga.