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Consumo de carnes está a cair entre as famílias portuguesas

21 dez, 2012

Retracção mais evidente é na carne de bovino. A Renascença falou com uma família que deixou de comprar carne fresca devido à crise, um talhante e responsáveis do sector, que confirmam a queda no consumo.

O consumo de carnes desceu cerca de 10 % em 2012. A crise económica originou uma retracção nos gastos com todo o tipo de carnes. De acordo com o presidente da Federação Portuguesa de Suinicultores, Vítor Menino, a falta de liquidez das famílias evidencia, sobretudo, uma redução no consumo de carne de porco.

“Quando não há dinheiro, há mesmo que cortar. Se eu tenho de ir comprar cinco euros de carne e se conseguir trazer uma embalagem de 'cornflakes' e dois litros de leite, janto muito mais barato com a minha família. Não há mesmo dinheiro e um dos sítios em que se está a cortar é na carne”, refere Vítor Menino.

De acordo com dados disponibilizados à Renascença pela Federação Portuguesa das Associações Avícolas (FESAPA), também o consumo de aves sofreu uma ligeira redução este ano. Num país auto-suficiente em carne de frango, a situação económica e financeira do sector avícola tornou-se deficitária por causa do aumento dos custos de produção e da retracção no consumo.

Há redução ainda na procura de carne de bovino, afirma Pedro Espadinha, da Federação Portuguesa de Associações de Bovinicultores. "O consumo da carne diminuiu de 16,3 para 15,9 quilos por pessoa por ano, o que é considerável", diz.

"Nota-se um decréscimo acentuado, quase um quilo por ano por pessoa, qualquer coisa como oito a 10 milhões de quilos de carne de vaca por ano. O consumo per capita de 2012 para 2011 caiu cerca de 2,5%. O que estamos a pensar é que em 2012, e pelos dados que temos, vai cair à volta de 5%", prevê Pedro Espadinha.

Apesar das campanhas de promoção, grande parte dos portugueses não tem meios financeiros para refeições completas. É o caso de uma família de Leiria. Maria, nome fictício, tem 53 anos e está desempregada. Vive com 300 euros do rendimento social de inserção e da ajuda que o ex-companheiro lhe dá todos os meses para pagar a renda da casa e a água.

Com dois filhos menores a cargo, admite que, se pagar as despesas, pouco resta para a alimentação. "Carne, peixe, não. Uns douradinhos, um bocadinho de atum, uma vez por outra umas costeletas de porco, umas febras ou assim... Agora peixe fresco, carne de vaca, coisas assim eu não compro. A minha filha chega a casa, 'ó mãe o que tens para o jantar?' e eu muitas vezes não tenho."

Os talhantes já se queixam, como testemunha Rui Ferreira, das Carnes Avenida de Leiria. "Fazem uma refeição com uma morcela, fazem uma refeição com um chouriço, e é uma opção que fica mais barata. Estão a deixar de comprar essencialmente as carnes vermelhas."