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5 de Outubro

Mulher “sonoriza” discurso de Cavaco e tenta chegar ao Presidente

05 out, 2012

Carácter fechado da cerimónia do 5 de Outubro não impediu Luísa Trindade, de 57 anos, de gritar para dentro do Pátio da Galé, porque “está farta de procurar trabalho”. Outra manifestante decidiu cantar “Firmeza”, de Fernando Lopes Graça.

As cerimónias oficiais do 5 de Outubro ficaram esta sexta-feira marcadas pela entrada no Pátio da Galé, em Lisboa, de uma mulher a gritar contra a actual situação do país, enquanto o Presidente da República discursava sobre o futuro e os jovens.

O burburinho começou a ouvir-se no fundo da sala, junto à entrada. Luísa Trindade, de 57 anos, gritava, tentando que os governantes e políticos presentes conhecessem a sua história, “que é a de muitos portugueses”.

"Tenho uma pensão de cerca de 200 euros, estou farta de procurar trabalho, já tentei fazer limpezas, mas não consigo arranjar nada", explicou depois aos jornalistas.

Findo o discurso do Presidente, Luísa tentou caminhar pela passadeira vermelha dirigindo-se até aos representantes políticos, mas foi de imediato bloqueada por vários elementos da segurança que estavam no local e a agarraram – “eles aleijaram-me, sabe?” – para a colocar fora do local.

Mas Luísa Trindade manteve-se à porta do Pátio da Galé e, à medida que os vários convidados iam saindo, gritava-lhes e perguntava: "Não se envergonham de olhar para a minha miséria?".

Chegou mesmo a interpelar o deputado do CDS-PP Nuno Magalhães, mas sem sucesso.

Quase ao mesmo tempo em que Luísa tentava passar pela segurança e os agentes a tiravam do local, uma mulher, ao fundo do corredor central do Pátio da Galé, começou a cantar "Firmeza", de Fernando Lopes Graça.

Ana Maria, cantora lírica, disse à agência Lusa que já tinha estado na manifestação em Belém, no dia do último Conselho de Estado, a cantar o "Acordai", do mesmo autor.

"As pessoas estão a sofrer, eu sou uma delas. Eu ainda vou tendo emprego. Penso que era a altura de cantar o ‘Firmeza’", justificou.

Entretanto, no exterior, na Praça do Comércio, o número de populares foi aumentando, mas sem registo de manifestações ou distúrbios. Alguns não deixaram, contudo, de criticar o carácter fechado das cerimónias.

"Isto é uma vergonha porque não é uma cerimónia privada. Parece que vivemos outra vez numa ditadura quando hoje é o dia da República", afirmou Justino Serrão, de 59 anos, ex-militar de Abril.

Outros queixavam-se que os políticos se esqueceram deles.