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O que é que se passa com o ensino superior português?

18 mai, 2012 • Mara Dionísio

Foi um dos sectores que mais ajudou a desenvolver o país, mas é daqueles que mais sofre cortes de financiamento. Reitores querem mais dinheiro e mais autonomia.

O que é que se passa com o ensino superior português?

A educação superior democratizou-se. Há cada vez mais portugueses licenciados, há mais instituições de ensino superior do que há 20 anos e o Estado tem cada vez menos dinheiro para financiar as universidades e politécnicos públicos. Por outro lado, o desemprego entre quem tem canudo cresce e há mais alunos a abandonar os estudos porque não têm dinheiro para pagar as propinas - a crise não perdoa. Mas, afinal, o que se passa com o ensino superior?

"Foi um dos sectores que mais contribuiu para o desenvolvimento de Portugal desde o 25 de Abril", diz Maria da Graça Carvalho, antiga ministra da Ciência e do Ensino Superior de Durão Barroso. "Houve uma democratização no acesso ao ensino superior, um crescimento muito, muito rápido e, claro, como todos os sistemas que crescem rápido, há algumas debilidades."

Debilidades que, na óptica de reitor da Universidade Técnica de Lisboa, António Serra, se resumem de forma simples: "O principal problema é de longe o financiamento público. Precisávamos de um financiamento pelo menos 30% acima daquilo que temos actualmente".

"É bom que se perceba que as nossas instituições competem no mercado mundial com universidades que são financiadas, 'per capita', 10 vezes acima das universidades portuguesas", argumenta António Serra.

O reitor da Técnica critica ainda a discriminação que o sector sofre com os cortes orçamentais: "O que aconteceu em Portugal foi que as universidades perderam 45% do financiamento público que tinham em 2006. Se tivéssemos descido 45% a dotação de todos os organismo da administração pública, estávamos com 'superavit'. Portanto, fomos mal tratados".

"Nunca foi um ensino que tivesse um financiamento comparado com os nossos competidores", corrobora Maria da Graça Carvalho.

Do conhecimento à riqueza
Eduardo Marçal Grilo, antigo ministro da Educação, sublinha que "as universidades, nos últimos anos, deram um salto muito grande, sobretudo na área da formação avançada e da investigação científica". "Hoje, a universidade produz conhecimento e pessoas qualificadas como nunca o fez", acrescenta.

O antigo ministro da Educação de António Guterres diz, no entanto, que "falta encontrar os mecanismos que permitam passar do conhecimento para a produção de riqueza à base desse conhecimento".

Por seu lado, o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, António Rendas, diz que está preocupado com a necessidade de "uma maior abertura a outros grupos e faixas etárias" e com a relação entre a academia e "a sociedade e as empresas".

Na mesma linha vai a opinião do reitor da Universidade do Algarve. João Guerreiro sublinha que é preciso haver "abertura da universidade à sociedade, às empresas, ao mundo".

Que soluções?
A autonomia é outro dos entraves apontados por João Queiroz, reitor da Universidade da Beira Interior. Os problemas do ensino superior têm que "ver com autonomia, com o orçamento que é atribuído, com a gestão dos recursos humanos".

Ora, os problemas afinam pelo mesmo diapasão, tal como as soluções. É preciso "mais financiamento público, em primeiro lugar, e mais autonomia do ponto de vista administrativo", defende António Serra.

Também Maria da Graça Carvalho sublinha que "se deixarmos as nossas universidades e politécnicos com a liberdade e com um sistema simples para puderem ir buscar financiamento a outras fontes e executá-lo, vão ser capazes de colmatar a redução do financiamento do Estado".