Tempo
|

Renascença recebe Ordem de Mérito do Presidente da República

09 abr, 2012

É o primeiro órgão de comunicação privado a ser condecorado. Cerimónia decorre pelas 17h00 no Palácio de Belém e pode ser acompanhada em directo, e em vídeo, aqui no site.  

Renascença recebe Ordem de Mérito do Presidente da República
Renascença nem sempre foi nome de rádio. No início dos anos 30, a Renascença era uma revista e foi por ela que se soube do projecto de Monsenhor Lopes da Cruz de criar uma “rádio-telefonia”. 75 anos depois, as histórias que ficam, contadas pelos que por aqui passaram.
A Renascença é condecorada esta segunda-feira, véspera de comemorar 75 anos, pelo Presidente da República. Cavaco Silva decidiu atribuir à emissora católica o título de Membro Honorário da Ordem de Mérito.

“É uma alegria ver a identidade da rádio reconhecida diariamente, mas é uma honra grande e, se quisermos, uma alegria maior, vê-la reconhecida pela própria Presidência da República”, afirma o presidente do conselho de gerência do Grupo r/com – renascença comunicação multimédia, cónego João Aguiar.

“Significa também que um Estado como o português percebe a importância da Rádio Renascença – Emissora Católica Portuguesa para o desenvolvimento informativo, formativo e de entretenimento da nossa comunidade e sociedade”, acrescenta.

A cerimónia decorre hoje à tarde, pelas 17h00, no Palácio de Belém, e pode ser acompanhada em directo, e em vídeo, aqui no site.

Antes, às 13h15, os 75 anos da Renascença vão ser assinalados com a celebração de missa de Acção de Graças, presidida pelo bispo auxiliar de Lisboa, D. Nuno Brás, na igreja do Sacramento, ao Chiado.


Uma exaltação da excelência
A Ordem de Mérito com a qual a Renascença é hoje condecorada visa distinguir serviços de grande valor para o país e para exaltar a qualidade.

“É uma forma, primeiro, de mostrar gratidão a quem fez algo de muito importante pelo nosso país. Depois, também tem uma função muito importante, que é dar um exemplo a outros, porque isto é exaltar a excelência, é exaltar a qualidade e isso é muito bom, do ponto de vista psicológica, para uma nação e para um povo”, refere o Chanceler das Ordens de Mérito Civil, embaixador António Pinto da França.

As Ordens de Mérito nasceram em 1927, quando foi criada a Ordem da Instrução e Benemerência, galardão atribuído a cidadãos nacionais e estrangeiros ou corporações, cuja contribuição na sociedade influenciava o progresso e prosperidade do país.

Com algumas mudanças ao longo do tempo, esta Ordem alargou a sua finalidade, premiando os bons exemplos de todos os agentes da sociedade.

Hoje, a Renascença passa a ser Membro Honorário da Ordem de Mérito, uma atribuição, na opinião do embaixador Pinto da França, mais que merecida.

“Acho que é muito bom condecorar-se a Rádio Renascença, pelos serviços que tem prestado ao país. A Renascença vem sendo uma referência e uma fonte de informação para os portugueses, pelo que acho que é uma condecoração bem merecida e, justamente, exalta a excelência, a qualidade”, sustenta.

Qualquer pessoa ou instituição pode sugerir a atribuição desta Ordem. Para isso, basta indicar ao Conselho das Ordens quem entende que deve merecer o galardão.

“Pode vir do Governo, de diversos ministério, mas também sociedade civil. Se conhece alguém com qualidades extraordinárias e lhe parecer que deve ser condecorado, é livre de escrever uma carta à Secretaria de Estado das Ordens, propondo que se estude esse caso. O papel do Conselho das Ordens – há três conselhos – é exclusivamente consultivo. Nada obriga o senhor Presidente, que depois escolhe do grupo de propostas que chegaram às suas mãos”, explica o Chanceler das Ordens de Mérito Civil.


Renascença nem sempre foi nome de rádio
No início dos anos 30, a Renascença era uma revista e foi por ela que se soube do projecto de Monsenhor Lopes da Cruz de criar uma “rádio-telefonia”. O padre Dâmaso Lambers, que mantém há mais de 50 anos uma colaboração com a Renascença, é uma das poucas pessoas que ainda conheceu o fundador.

“Fisicamente, era o pároco da aldeia. Era bastante gordo, um bocado mal vestido, mas via-se logo que era um homem de Deus”, descreve.

A rádio nasceu pequena, mas no início dos anos 70 começou a dar o salto. Albérico Fernandes, que foi director de Programas e de Informação entre 1972 e 1981, inaugurou o primeiro estúdio de Informação no dia do atentado contra o Papa João Paulo II e recorda uma façanha desse dia.

“Nós dizíamos: agora vamos ligar à Clínicas Gemelli. E a freira dizia: Il Santo Padre... e nós cortávamos logo a ligação porque ela não tinha mais nada para dizer mas éramos os únicos a ter ligação à clínica onde estava o Papa”, recorda.

Nessa altura, já a Renascença era administrada por Magalhães Crespo. O “dirigente histórico” chegou a esta rádio em 1974, pela mão do Cardeal Patriarca de Lisboa, que o surpreendeu com o convite de tal modo que a primeira pergunta de Crespo após o convite foi: “Diga-me uma coisa, o que é a Rádio Renascença?”.

Magalhães Crespo acabaria por ficar 31 anos, tantos quantos António Sala, que, no entanto, não entrou com o pé direito: “Na minha primeira entrada na Renascença digo: de Lisboa transmite a Radiodifusão Portuguesa, Antena Um”.

Uma “gaffe” entre tantas que fazem a praga de quem fala ao microfone. Outra, são as gargalhadas. Inês Lopes Gonçalves, antiga jornalista da Renascença, que o diga: “O senhor chamava-se Zulficar Ali Bhutto, e a partir daí não houve mais noticiário, porque quando eu disse Ali Bhutto foi a risada total e não houve notícias”.

Ribeiro Cristóvão, por seu lado, garante que ninguém pára o relato de futebol, mesmo entre equipas da Terceira Divisão: “Em Sesimbra, não havia condições nenhumas para fazer o relato por isso estendemos os cabos e eu fiz o relato em cima de uma árvore”.

Histórias de uma rádio com 75 anos, que não cabem num artigo de jornal nem numa peça de rádio. Por isso, como diz Magalhães Crespo antes de começar a desfiar o rosário das memórias: “Se falar demais, vocês cortam”.