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O IRS assusta

27 fev, 2012 • Matilde Torres Pereira

No mês em que os portugueses vão sentir na folha salarial as novas tabelas de IRS, a Renascença foi saber o se diz na rua sobre as mudanças que aí vêm. Resultado: não se diz muito, porque este é uma tema que coloca literalmente os entrevistados em fuga. Entre quem aceita falar, teme-se mais um esforço de austeridade.

O IRS assusta
Há muitos portugueses que vão receber um salário líquido inferior, já a partir deste mês, devido às novas tabelas de retenção na fonte. A Renascença andou pelas ruas de Lisboa à procura de reacções ao que vai mudar, mas a grande maioria não quis falar. Qualquer referência a "IRS" é motivo para a conversa quebrar.

Por outro lado, quem ousou enfrentar a sigla nem sempre revelou estar a par das novas tabelas, que criam excepções para os funcionários públicos, já penalizados pela perda dos subsídios de férias e de Natal. Já entre os que estão mais a par das mudanças, o tom dominante é de preocupação.

É o caso de um motorista de táxi da Baixa de Lisboa, de 60 anos, que preferiu não divulgar o nome. "Geralmente, todos nós ganhamos menos já há muitos meses e ainda vão ser muitos meses a ganhar menos", começa por referir.

"É pena que seja assim, mas não temos outra solução para ultrapassar esta crise", constata o taxista, embora diga que lhe “faz confusão” mais esta mudança. "Qualquer dia não sobra nada para o resto."

Para Joana, administrativa de 33 anos, a retenção adicional não a vai afectar directamente, porque a sua entidade patronal compensa o acerto, para não ser prejudicada no final do mês. Mas não é por isso que não se preocupa: “Preocupa-me, até pelas outras pessoas que eu conheço e as que não conheço, pela situação que vivemos actualmente”.

Por sua vez, Isabel Santos, 47 anos, já sabia que as tabelas de retenção tinham mudado, mas tem outras preocupações. Está desempregada há três anos e só sabe que o subsídio vai baixar. “Acabei um curso de reinserção social no final do ano passado e, agora, estou à espera que me saia outro”, conta a antiga trabalhadora de uma fábrica de calçado, que fechou por falta de trabalho.

"A informação não é tanta como desejada"
Renascença encontrou dois funcionários públicos que não se assustaram com a referência a "IRS". Ambos não sabiam que vão ter tabelas de retenção diferenciadas dos outros trabalhadores - como os funcionários públicos vão perder os subsídios de férias e de Natal, as novas tabelas de retenção
não sobem como nos restantes casos, para evitar uma nova penalização.

Simão Lopes, de 33 anos, funcionário da Assembleia da República, diz que “não tinha conhecimento” destas diferenças e refere que, “se calhar, a informação não é tanta como a desejada”. Amadeu Pereira, de 47 anos, funcionário da Câmara de Lisboa, ri-se e diz apenas que “a mim não me cortam [no ordenado], porque ganho pouco dinheiro". "Era bom que me cortassem. Ficava satisfeito se me cortassem, porque era sinal de que ganhava bem.”

Ao longo do périplo pelas ruas de Lisboa, não foi fácil encontrar mais reacções. O IRS assusta, não só pelo que leva mensalmente, mas também como tema de conversa.

O QUE MUDA
As novas tabelas de retenção na fonte entraram em vigor este mês. Muitos trabalhadores dependentes sem vínculo à função pública vão receber um salário líquido inferior. Nos salários mais altos, as taxas de retenção aumentaram dois pontos percentuais. Por outro lado, e por já terem perdidos os subsídios de férias e de Natal, os funcionários públicos têm tabelas diferentes, para que não sejam duplamente penalizados.

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