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Uma história de princesa, centenária e heroína

31 jan, 2012 • Aura Miguel

Perseguida pelos nazis por ajudar a resistência, foi salva à última hora de uma deportação para a Sibéria, voltando para a terra dos seus antepassados que hoje a distingue com uma condecoração.

Uma história de princesa, centenária e heroína
Faz hoje cem anos Sua Alteza a Infanta Dona Maria Adelaide de Bragança. Neta do rei D. Miguel I de Portugal, nasceu há 100 anos no dia 31 de Janeiro de 1912.

Filha mais nova do Duque de Bragança, conhecido pelos seus apoiantes como D. Miguel II, e da princesa Maria Teresa de Loewenstein, nasceu no exílio, viveu na Áustria, foi enfermeira e assistente social.

Mulher de grande tenacidade e coragem, nunca abdicou dos seus valores, mesmo durante a ocupação nazi, quando se dedicou a auxiliar as vítimas dos bombardeamentos e ajudar a resistência. Por causa das suas convicções foi presa pela Gestapo.

“Um dia estava em casa e veio o guarda que morava ali mesmo ao pé e que me avisou para desaparecer de circulação porque sabia que a Gestapo estava à minha procura. Pus a minha capa verde de caçador, o meu chapéu e desapareci”, explica a infanta.

Decidiu então afastar-se do local. “Fui para a floresta, da floresta para o comboio e fui para Viena para uma casa que tinha sido de uma tia minha e que tinha sido bombardeada. Não sabia o que fazer, por isso fui-me deitar. Mas como não havia cama, deitei-me na banheira, com a minha capa e dormi. Tinha tapado a janela com tábuas e quando ouvi bater nas tábuas, sabia que era a Gestapo”, recorda.

Depois dos nazis, esteve iminente a sua deportação para a Sibéria, mas graças à intervenção diplomática de Portugal, foi-lhe concedido passaporte português – a ela e aos seus irmãos, um deles D. Duarte Nuno, pai do actual Duque de Bragança.

Casada com o médico holandês Nicolaas Van Uden, veio para Portugal em 1949 e dedicou-se a uma intensa actividade caritativa de ajuda aos mais pobres.

O Presidente da República confere-lhe hoje a medalha de Grande Oficial da ordem de Mérito.

Destaque ainda para duas mensagens expressamente escritas para esta comemoração – uma do Papa Bento XVI que sublinha a sua coragem e inteligência ao serviço da fé e da Igreja – e outra do Grão Duque do Luxemburgo, primo da homenageada.