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Morte de criança "podia ter sido evitada" com transplantes em Coimbra

29 nov, 2011

É a convicção de Vítor Martins, da Hepaturix, uma associação que apoia familiares e crianças transplantadas.

Se o serviço de transplantes hepáticos pediátricos estivesse a funcionar em Coimbra, a morte da criança portuguesa de dois anos, em Madrid, enquanto esperava por um transplante, podia ter sido evitada. É a convicção de Vítor Martins, da Hepaturix, uma associação que apoia familiares e crianças transplantadas.

À Renascença, Vítor Martins explica que o bebé de dois anos andou de hospital para hospital entre Coimbra, Braga e Madrid. “Esta criança estava a ser acompanhada em Coimbra, depois foi encaminhada para o La Paz em Madrid, entretanto o La Paz achou que a criança não estava em necessidade e resolveu reencaminhá-la para Portugal”, explica.

A viagem não acabou ali. Vítor Martins conta que “a criança voltou para Portugal, neste caso já não foi acompanhada em Coimbra, porque, estando o programa suspenso, as crianças passam a ser assistidas pelo hospital da residência e foi assistida pelo Hospital de Braga".

"Entretanto, o Hospital de Braga começa a aperceber-se de que o estado da criança se está a degradar demasiado, pega na criança e manda-a para o Hospital de La Paz em Madrid, onde a criança acaba por falecer."

“Parece-me que seria tudo mais fácil se o programa de transplantes estivesse a funcionar em Coimbra”, defende, acrescentando que, "até hoje, o programa existe há 18 anos e nenhuma criança morreu à espera".

A unidade de transplantes hepáticos em Coimbra fechou aquando da demissão do único cirurgião que aí trabalhava, durante o decorrer do processo da criança.

Portugal tem excelentes condições para realizar transplantes
O antigo director da unidade de transplantes em Coimbra, Linhares Furtado, diz que Portugal tem excelentes condições para realizar transplantes hepáticos em crianças e até podia poupar dinheiro, além de evitar sacrifícios às próprias famílias.

“Há uma experiência acumulada, há uma competência que no país era única: realizaram-se todos os grandes progressos que se fizeram em transplantação pediátrica em Portugal e as crianças que antes de 1974 iam para o estrangeiro deixaram de ter essa necessidade – fez-se inclusivamente a transplantação com dadores vivos em 24 casos, que mais ninguém fez – e há instalações esplêndidas”, refere à Renascença.

A transferência das crianças doentes para fora do país surgiu na sequência da demissão do único cirurgião em funções em Coimbra. Linhares Furtado diz que não se trata de um problema financeiro.

“Os chamados incentivos nunca constituíram um problema para nós. De início, nem queríamos incentivos, queríamos um regime igual ao dos outros médicos de prevenção ou de presença física nos casos em que isso estivesse indicado. O principal cirurgião de transplantação pediátrica deixou de fazer transplantes, porque exigia condições nas quais não se incluía qualquer remuneração especial”, garante o antigo director da unidade de transplantes em Coimbra.