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Câmara do Porto avisa. Vem aí um "enorme aumento" do preço da água

02 jul, 2015

Munícipes vão receber uma carta na qual serão alertados para as consequências das fusões impostas no sector.

A Câmara do Porto anunciou esta quinta-feira que vai alertar os munícipes para o "enorme aumento do preço que a água" no concelho, "até 40%", fruto da fusão no sector decidida pelo Governo e contestada judicialmente por várias autarquias.

"O Governo impôs, à força, a fusão das empresas que vendem água aos municípios, extinguindo a Águas de Douro e Paiva [AdDP], de que é accionista o município do Porto. Este processo terá como consequência, a curto prazo, um enorme aumento do preço da água ao consumidor, que poderá atingir os 40%", avisa o presidente da autarquia, Rui Moreira, na carta que vai enviar aos portuenses.

A informação da Câmara do Porto, divulgada num comunicado à imprensa, surge depois de, na terça-feira, o Grupo Águas de Portugal (AdP) ter finalizado a reorganização territorial das suas operações de abastecimento de água e saneamento, agregando 19 empresas e iniciando a actividade de três novas empresas regionais, nomeadamente a Águas do Norte, cuja criação levou à extinção da AdDP.

No comunicado, a autarquia explica que Moreira vai "aproveitar o envio da factura da água" para avisar os munícipes sobre "o enorme aumento do preço que a água sofrerá no município, caso o Governo concretize o processo de fusão das águas em curso".

De acordo com o autarca, "o novo sistema, em lugar de criar poupança, implicará, em cinco anos, o desperdício de 13,5 milhões de euros".

"Na opinião dos [19] municípios, detentores de 49% do capital social [da AdDP], entre os quais se encontra o município do Porto, a extinção da empresa, contra a sua vontade, é ilegítima e o processo de fusão não cumpre nenhum dos objectivos enunciados pelo Governo para fundamentar a sua decisão", sustenta Moreira.

Para o autarca, é "falso o pressuposto invocado de que a nova empresa poderia criar sinergias que levassem à poupança de dinheiros públicos e à redução futura de tarifas".

"Os municípios integrados na AdDP pagarão, para o sistema global, mais 38 milhões de euros do que actualmente (mais 40%) só nos próximos cinco anos", acrescenta.

Por outro lado, "os ganhos para os restantes municípios não ultrapassam os 24,5 milhões", destaca.

"Também é falso o argumento de que tudo isto servirá para uniformizar tarifas e de que, no interior, a água é mais cara. Ao contrário do que diz o Governo, a água nos municípios do litoral custa quase o dobro, em média, do que no interior", sublinha.

"Traição" do Terreiro do Paço
Segundo Moreira, "a fusão não cumpre nenhum princípio de solidariedade, prejudicando todos os municípios e provocando aumentos a todos os munícipes, independentemente de onde vivam".

Para além disso, o autarca considera estar em causa "uma traição a compromissos políticos assumidos no passado em relação a um conjunto significativo de municípios".

Isto porque, diz o autarca, esses compromissos fizeram os municípios "crer que poderiam investir com segurança e de boa-fé na sua empresa de distribuição de água".

Agora, "por decreto e a partir do Terreiro do Paço", estão "a querer esbulhá-los de património, conhecimento, valor e autonomia", lamenta Moreira.

O processo está a ser contestado judicialmente e, segundo o "Jornal de Notícias" desta quinta-feira, o Tribunal de Comércio de Gaia "aceitou apreciar duas providências cautelares interpostas pela Câmara de Paços de Ferreira para suspender a extinção da AdDP.

Na assembleia de accionistas da Águas do Norte realizada na terça-feira, a eleição dos órgãos sociais, bem como a votação do plano estratégico e do estatuto remuneratório mereceram os votos contra de quatro municípios da esfera da AdDP (Porto, Gaia, Oliveira de Azeméis e S. João da Madeira).