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Dois em cada três reclusos inquiridos consomem drogas

26 jun, 2015

Dentro das prisões portuguesas consome-se especialmente cannabis, hipnóticos/sedativos, heroína e cocaína.

O consumo das drogas tradicionais nas cadeias diminuiu no ano passado, mas atinge dois terços dos detidos, indica o Inquérito Nacional sobre Comportamentos Aditivos em Meio Prisional, que compara dados de 2001, 2007 e 2014.

Os dados foram divulgados esta sexta-feira pelo Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).

O inquérito indica que há uma tendência de queda de consumos de substâncias como heroína, cocaína ou cannabis, em comparação com os inquéritos anteriores, mas um aumento se forem tidas em conta toda as drogas.

Com base num questionário aplicado a 20% dos reclusos e abrangendo 47 das 49 prisões, o documento refere, no entanto, que há um aumento das declarações de consumo na população reclusa:  69,1% em 2014, quando em 2007 era 63,6% e em 2001 era 65,7%.

Este aparente contra-senso, explica o documento, deve-se ao facto de no inquérito de 2001 se especificarem sete substâncias e no do ano passado estarem 18. Pode-se concluir "que o aumento dos consumos é alavancado pelo consumo de novas substâncias integradas no questionário", como os cogumelos e outros alucinogénios, buprenorfina e esteróides, o que denuncia "alterações nos padrões de consumo".

Qual é a droga mais consumida?
Dentro das prisões consome-se especialmente cannabis (pelo menos alguma vez), com 18,8%, hipnóticos/sedativos (6,4%), heroína (5,3%) e cocaína (5,1%).

Sem alteração está a tendência de decréscimo de consumo por via injectável na prisão, passando de 11,3% em 2001 para 3,1% em 2007 e para 1,1% no ano passado.

O inquérito acrescenta que "80,2% dos reclusos/as consumidores/as de alguma substância declaram já ter consumido alguma vez na vida cannabis, 56,2% cocaína, 38,1% heroína e 27,6% ecstasy, o que representa descidas em todas estas substâncias por referência a 2001 e 2007".

As prevalências de consumo ao longo da vida (alguma vez na vida) são muito mais expressivas entre os presos do que na população em geral, mas as tendências de descida de consumos nas cadeias acompanham as tendências gerais, diz o inquérito, que salienta um aumento de consumo de substâncias psicoactivas entre as mulheres.

Ainda que haja um decréscimo de infecções por HIV - quer no número total de seropositivos quer de seropositivos consumidores -, 1,8% dos reclusos disse já ter partilhado agulhas/seringas alguma vez na prisão, 79,8% disse nunca ter usado preservativo em visitas intimas e 72,1% disse nunca ter usado noutros contextos (um retrocesso relativamente a 2001 e 2007).

O inquérito tem ainda dados sobre o consumo de tabaco e bebidas alcoólicas, concluindo que 65,2% dos inquiridos declarou já ter fumado, valor muito mais elevado do que na população em geral (46,2). Mais de metade dos detidos diz fumar na prisão.

Já quanto a bebidas alcoólicas, se 63% diz que já bebeu ao longo da vida apenas 16% diz ter consumido na cadeia (entrada dessas bebidas é mais difícil).

E um terço dos inquiridos admite ter jogado a dinheiro alguma vez, sendo que na prisão o dinheiro envolvido é superior. Dois terços dos que dizem jogar continuam a prática dentro da cadeia.

O Inquérito foi feito em articulação com a Direcção-Geral da Reinserção e Serviços Prisionais e realizado pelo Centro Interdisciplinar de Estudos de Género do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Foi feito em Outubro de 2014.