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Ficou tetraplégico e agora vai pedalar 1.200 quilómetros. “O desporto salvou-me”

02 jun, 2015 • Liliana Carona

Um acidente no mar mudou-lhe a vida, mas Jorge Pereira fez progressos assinaláveis. Hoje, consegue andar numa bicicleta adaptada e vai percorrer nela o país - de Viana a Faro, para sensibilizar as comunidades para os problemas das pessoas com mobilidade reduzida. É o “Portugal Sem Barreiras”.

Ficou tetraplégico e agora vai pedalar 1.200 quilómetros. “O desporto salvou-me”

“Não é só uma volta de bicicleta, é mais do que isso”, garante Jorge Pereira, o desportista que ficou tetraplégico há dois anos. Um acidente no mar, enquanto surfava, trocou-lhe as voltas. Hoje, lança-se num novo desafio: atravessar Portugal continental em bicicleta adaptada. 

Jorge sofre de uma tetraplegia incompleta. A lesão na coluna cervical não afectou a capacidade de ter uma marcha condicional, funcional. O equilíbrio é reduzido e permite-lhe apenas caminhar por curtas distâncias. Foi recuperando e obtendo pequenas vitórias, que hoje lhe permitem lançar-se neste projecto. “O objectivo é chamar a atenção para a questão da mobilidade reduzida e em cada câmara observar os vários projectos que estão a desenvolver nesta área. No fim, fazemos um portefólio onde relatamos esta experiência”, explica à Renascença.

Jorge renasceu graças ao desporto e, por isso, a mensagem que quer transmitir é que todos podem praticar desporto. “Um atleta tetraplégico não é uma contradição, pelo contrário: as pessoas que têm lesões e ficam com mobilidade condicionada procuram dar o melhor dentro das limitações. Claramente, são atletas. Para todos os casos há sempre algo que se possa para fazer”.

Jorge Pereira tem 43 anos e uma escola de surf. Era professor de educação física em Viana do Castelo quando teve o acidente. Chegou a pensar que a vida tinha acabado.

“Nada nem ninguém me conseguia animar. Perdi o chão. Tinha que surfar todos os dias e deixei de o poder fazer. Tive que me reconstruir e tive de voltar a nascer”, conta.

A sua força e persistência levou-o a pedalar até à Serra da Estrela. Cansativo? “Foi muito mais difícil do que eu pensava”, admite. Por outro lado, “não temos registo de ninguém com um quadro de tetraplegia subir à Serra”, acrescenta com orgulho.

Há um ano, Jorge (porte atlético e pele queimada pelo sol) fundou a Mobilitas, associação de apoio a pessoas com mobilidade reduzida. Agora, lança-se num novo desafio: o Portugal Sem Barreiras – travessia de Portugal continental em bicicleta adaptada.

A partida foi em Viana do Castelo, no dia 23 de Maio, e o percurso inclui passagem pelo Porto, Aveiro, Viseu, Serra da Estrela, Lousã, Fátima, Lisboa e Sesimbra. A chegada a Faro está prevista para o dia 14 de Junho.

A próxima luta é a homologação da prova de “trike”, a bicicleta de três rodas que utiliza. Enquanto modalidade, não existe. O objectivo é “conseguirmos, junto da Federação de Ciclismo, introduzir provas de ‘trike’ e ter uma competição”, afirma, adiantando que a federação já foi contactada e mostrou-se disponível.

(Notícia actualizada às 12h00)