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“Devíamos pensar num plano de combate à violência sobre crianças”

01 jun, 2015 • André Rodrigues

A proposta é da vice-presidente do Instituto de Apoio à Criança, no Dia Mundial da Criança. Entre 2008 e 2014, foram sinalizadas mais de 36 mil crianças e jovens em risco.

“Devíamos pensar num plano de combate à violência sobre crianças”
A vice-presidente do Instituto de Apoio à Criança, Dulce Rocha, apela a um papel mais activo da sociedade na prevenção de casos de violência contra as crianças e propõe a criação de um plano nacional.

“Devíamos pensar, à semelhança do que sucede com a violência doméstica, num plano nacional de prevenção e de combate à violência sobre as crianças. Nós vemos que é preciso mais formação para os profissionais e muita informação para as crianças e para as famílias”, afirma à Renascença.

“Poderíamos, eventualmente, ter programas psicoterapêuticos também para reabilitar os agressores”, acrescenta.

Esta segunda-feira, assinala-se o Dia Mundial da Criança. Mais de 36 mil menores foram sinalizados entre 2008 e 2014, o que leva Dulce Rocha, que já presidiu à Comissão Nacional de Protecção de Crianças e Jovens em Risco, a defender uma maior atenção a estes casos.

Por outro lado, um quarto das crianças em Portugal vive em situação de carência material. Dulce Rocha acusa o Governo de optar pela austeridade, indiferente a todas as recomendações que apontam para a necessidade de dar melhores condições às famílias.

“Eu lembro-me de termos feito a recomendação de investir nas crianças para combater as desigualdades. Mas, ao mesmo tempo em que fazíamos essa recomendação, havia políticas severas de austeridade. O resultado saiu exactamente o contrário”, critica.

Consequência disso é a quebra de natalidade. Portugal tem a taxa mais baixa da União Europeia e as mulheres em idade fértil optam por ter filhos cada vez mais tarde – em média, depois dos 29 anos.

“As famílias não conseguem ter esperança em segurança e num futuro com condições de dignidade”, afirma a vice-presidente do Instituto de Apoio à Criança, que se diz “assustada” com a falta de medidas para inverter a tendência e com a saída de tantos jovens do país, uma vez que são eles que podem ajudar a mudar.

“Isto tem de fazer pensar as pessoas que têm o poder”, defende Dulce Rocha.