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"Cuspidela não houve", diz testemunha de detenção violenta em Guimarães

18 mai, 2015 • Pedro Rios

PSP agrediu e deteve pai à frente dos filhos, alegando no auto da detenção ter sido alvo de uma cuspidela. À Renascença, uma testemunha diz que é mentira.

"Cuspidela não houve", diz testemunha de detenção violenta em Guimarães
Marta Santos Silva estava no local no exterior do estádio do Vitória de Guimarães e nega que o adepto agredido pela PSP tenha cuspido o agente da polícia. "A cuspidela que o agente diz ter sofrido não houve", garante em declarações à Renascença.

Segundo o "Expresso" e o "Jornal de Notícias", o auto da detenção da PSP de Guimarães, escrito pelo agente envolvido nos acontecimentos, tenta legitimar as agressões policiais de domingo, referindo-se a injúrias e a uma alegada cuspidela por parte do adepto, José Magalhães, que foi detido com violência na presença dos seus dois filhos menores. José Magalhães desmentiu a tese do agente da PSP.

Marta Santos Silva, que diz que estava a dois metros da cena, corrobora a tese do agredido e diz: "Não ouvi injúria nenhuma de parte a parte". "Aliás, estou até hoje para perceber como é que tudo se conjugou daquela forma porque o tom de conversa não era um tom de animosidade, era perfeitamente normal." 

A testemunha conta que, depois das agressões, falou com o agente. "Não estava cuspido, não estava com o equipamento rasgado, nem com aspecto de ter sido agredido. A única coisa que ele nos disse foi: 'Ele insultou um agente da autoridade. Até vos aconselho a abandonarem o local'."

O que aconteceu, garante, foi "precisamente aquilo que as imagens televisivas reportaram. Tudo aquilo: não há um 'antes' e não há um 'depois'. Aquilo que as imagens mostram é precisamente aquilo que acontece. Não ha nenhum episódio antes que tenha sido potenciador do que se passou."

Marta, advogada de Santa Maria da Feira que se encontrava em Guimarães, conta que o filho mais novo de José Magalhães saiu do estádio "com os ombros caídos, a caminhar quase a cambalear". "Fiquei com a clara sensação que o menino estava desidratado e podia até desfalecer", conta. Ofereceu-lhe água e, quando começou a abandonar o local, viu o "que as televisões mostram".

Antes das agressões, "o polícia dirigiu-se ao pai". "Creio que [o agente] lhe terá dito que não podia estar ali parado. O senhor José disse-lhe 'Acha isto bem? Estávamos ali [dentro do estádio] encurralados há mais de 45 minutos'. Neste tom de voz [calmo]. Nunca houve, nem da parte do senhor, nem do agente da autoridade, qualquer levantar de voz que pudesse levar aos acontecimentos que depois se deram."

"Quando virei as costas, tentando seguir o meu caminho normal, não sei se houve algum desaguisado, alguma troca de palavras... Aquilo que sei é que cuspidela não houve."

O caso gerou polémica nas redes sociais. O Ministério da Administração Interna anunciou esta segunda-feira que vai ser aberto um inquérito às agressões, avançando que o agente da PSP envolvido já foi identificado. A Direcção Nacional da PSP decidiu abrir um procedimento disciplinar contra o polícia.