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Jovens condenados. 91% sofrem de alguma perturbação mental

16 mai, 2015

A situação nos centros educativos, onde ficam internados os menores que praticam casos graves qualificados como crime, como os que foram notícia nos últimos dias, esteve em debate no programa "Em Nome da Lei" da Renascença.

Jovens condenados. 91% sofrem de alguma perturbação mental
91% dos jovens condenados sofrem de alguma perturbação mental. A situação nos centros educativos, onde ficam internados os menores que praticam casos graves qualificados como crime, como os que foram notícia nos últimos dias, esteve em debate no programa "Em Nome da Lei" da Renascença.

Um total de 91% dos jovens condenados pela prática de um crime sofrem de alguma perturbação do foro mental, diz o subdirector-geral da Reinserção Social e Serviços Prisionais, Licínio Lima, no programa “Em Nome da Lei” da Renascença.

A conclusão é de um estudo elaborado pela Faculdade de Psicologia da Universidade de Coimbra, juntamente com técnicos da Direcção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais.

Licínio Lima justifica assim a necessidade de criar uma nova figura, a do internamento terapêutico, permitindo um tratamento diferenciado aos jovens que sofrem de distúrbios mais graves.

A coordenadora da Comissão de Avaliação e Fiscalização dos Centros Educativos, Maria do Carmo Peralta, até concorda com a ideia, mas recomenda ao Ministério da Justiça que, antes de mais, cumpra a nova lei tutelar educativa.

Maria do Carmo Peralta não percebe como é que, tendo o diploma entrado em vigor em Fevereiro, só agora o Ministério da Justiça esteja a estudar como vai implementar as casas de autonomia, para uma reintegração mais eficaz dos jovens com percursos de delinquência.

“A lei foi para a Assembleia da República há mais de um ano, todos os partidos apresentaram alterações à lei, estão de acordo com a fase de supervisão, portanto, há muitos meses que a Direcção-Geral ou quem tiver que o fazer devia ter começado a pensar na forma de o concretizar. Não foram surpreendidos por uma lei. Inclusivamente, nós demos a conhecer as nossas propostas há muito muito tempo.”

Menos criminalidade, mais violência
Maria do Carmo Peralta diz que a sociedade falha, sistematicamente, na prevenção da criminalidade. Na dos jovens também.

“A criminalidade tem diminuído, mas a violência em todos os crimes detectados tem aumentado substancialmente, é cada vez mais grave em todos os sectores”, sublinha.

A magistrada defende que, por causa da crise, as pessoas têm uma grande raiva dentro delas e isso explica, em parte, o facto de os crimes serem hoje mais violentos.

O ideal seria avançar para um Plano Nacional de Prevenção da Delinquência Juvenil. A ideia não é nova, mas nunca foi aplicada porque custa muito dinheiro, refere Maria do Carmo Peralta.

Há um ano o sistema tinha um problema de sobrelotação, mas neste momento estão internados em centros educativos apenas 181 jovens para uma lotação de 198. Esta descida do número de jovens condenados a medida de internamento é explicada por uma nova atitude dos magistrados, diz Licínio Lima, subdirector-geral da Reinserção Social e Serviços Prisionais.

Opinião diferente tem o habitual comentador da Renascença Luís Fábrica. Portugal tem uma baixíssima taxa de jovens internados nos centros educativos e uma população prisional altíssima, o que quer dizer que não apanha a delinquência quando ainda é recuperável.

O advogado e professor universitário diz que tem uma visão do sistema cada vez mais pessimista. A opinião pública não quer saber deste tema e interessa-se ainda menos do que pelo mundo prisional, lamenta.