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Portugal é líder europeu em incêndios

06 mai, 2015 • Olímpia Mairos

Entre 2000 e 2013, verificaram-se quase 19 mil fogos florestais nos países da bacia do Mediterrâneo. Mais de dez mil ocorreram em Portugal.

Portugal é líder europeu em incêndios
Mais de um terço dos incêndios registados nos países da bacia do Mediterrâneo (Portugal, Espanha, França, Itália e Grécia) aconteceram em Portugal. Os dados são revelados pelo Centro de Investigação e de Tecnologias Ambientais e Biológicas (CITAB), da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, e refere que o nosso país registou “cerca de 10 mil, em 19 mil incêndios contabilizados entre 2000 e 2013”.

Em termos de área, foram contabilizados quase 3,5 milhões de hectares ardidos, dos quais 1,3 milhões (37,7%) em território continental.

Para Mário Gonzalez trata-se de “um valor muito elevado que ainda é mais exacerbado, tendo em conta a pequena dimensão do país face aos outros países compararados, nomeadamente com Espanha”.  Tendo em conta a dimensão de Portugal continental, este valor corresponde a 14,7% do território nacional. 

Nesta investigação foram analisados dados de Espanha, Itália, Grécia e França, que permitiram aos especialistas conhecer as dinâmicas dos fogos, a recorrência e qual o tipo de vegetação que mais arde.

Mário Gonzalez Pereira e Mallik Amraoui, investigadores do Centro de Investigação e de Tecnologias Ambientais e Biológicas (CITAB), da academia transmontana, colaboraram na realização do estudo que incidiu sobre países do Mediterrâneo.

Um em cada quatro incêndios a norte do Douro
Um outro relatório divulgado pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real, concluiu que 25% dos fogos florestais acima do rio Douro ocorre duas vezes no mesmo local, num período de 10 anos.

“Este estudo prova que são incêndios recorrentes e que os povoamentos monocultura, que são os mais comuns em Portugal, são mais propensos quer aos fogos, porque têm continuidade espacial do combustível, quer ao ataque de pragas florestais”, refere José Aranha, investigador do Centro de Investigação e de Tecnologias Ambientais e Biológicas (CITAB).

Planear, ordenar e instalar florestas mistas
José Aranha defende que, “do ponto de vista ambiental”, Portugal deveria apostar “em florestas mistas pois a presença de várias espécies de árvores fomenta a biodiversidade, o abrigo e a alimentação das espécies animais”.

O investigador considera também que esta aposta tem vantagens do ponto de vista comercial, na medida em que permite obter “rendimentos financeiros desfasados no tempo e porque se poderiam reunir melhores condições para a defesa da floresta quer em termos de incêndios, quer contra pragas”.

José Aranha alerta ainda para a necessidade de um “correcto ordenamento florestal e gestão florestal, como o controlo de matos, desbaste regular das árvores e instalação de novos povoamentos mistos, bem como a manutenção dos caminhos florestais, e a instalação de povoamentos com a predefinição do perigo de incêndio daquela zona” de modo a “minimizar o efeito dos fogos”.

Cálculo dos índices de perigo
A estratégia, segundo o especialista, deve passar pela criação de modelos de cálculo de perigo de fogo adaptados a cada região.

É que, através do cálculo dos índices de perigo de incêndio, adaptados e calibrados para as várias regiões, em vez da utilização de um modelo para o país todo, os investigadores poderiam centrar as atenções nas zonas onde o perigo é maior, desenhando programas de ordenamento e de gestão florestal que possibilitariam minimizar o perigo de essas áreas voltarem a arder.

Para este estudo, feito no âmbito de uma tese de doutoramento, foram analisados dados estatísticos entre 2000 e 2013 dos fogos registados em todos os distritos do país e a área ardida.

Viseu é o distrito com maior número de fogos, com 2.030 ocorrências (19,3% do total de incêndios) e a Guarda detém a maior área ardida com 167,8 mil hectares, o que equivale a 13% da superfície ardida.

Vila Real regista quase 1.500 incêndios (14,2% do total de fogos) e 10% da área ardida, em território continental, entre 2000 e 2013.

É o terceiro distrito com mais ocorrências de incêndios e 5,5% da área ardida foi consumida três vezes pelas chamas nos últimos 10 anos.