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É preciso “mudar paisagem da floresta em Portugal”, diz especialista

01 mai, 2015

Joaquim Sande Silva considera que melhorar as questões relacionadas com o combate é o mais fácil. Mais difícil é tornar a floresta menos susceptível aos incêndios.

É preciso “mudar paisagem da floresta em Portugal”, diz especialista

Estamos a 15 dias do início da “fase Bravo” de combate aos incêndios florestais, a fase que precede o dispositivo em máxima força dos bombeiros e de outras forças de protecção civil. Por isso, a Renascença falou com Joaquim Sande Silva, especialista em floresta.

Este professor na Escola Superior Agrária de Coimbra diz que a parte do combate está garantida, o mais difícil é mudar a nossa floresta para que não arda tanto.

“Tudo indica que alguma melhoria que se tem sentido a nível dos incêndios - e isto já descontando a questão meteorológica - tem sido precisamente devido a alguma aposta que se tem feito no combate. Agora, é importante dizer que essa é a via mais fácil: apostar em melhorar as questões relacionadas com o combate é sempre o mais fácil e resolver. O que é difícil de fazer é aquilo que não tem sido feito: mudar a paisagem da floresta em Portugal de maneira a torná-la menos susceptível aos incêndios e isso é, de facto, o mais difícil de fazer ”.

Este especialista lembra que Portugal é um dos países do mundo com menos propriedade florestal pública e das mais fragmentadas em termos europeus, com pouca floresta natural, mais resistente aos incêndios.

Joaquim Sande Silva diz que muito foi anunciado, mas quase nada evoluiu na nossa floresta. “Evolução em termos administrativos na criação de legislação, na criação das zonas de intervenção florestal (ZIF). Tudo isso foi anunciado como grandes realizações dos sucessivos governos dos últimos anos mas, enquanto não virmos que há de facto alterações consideráveis a nível da paisagem florestal portuguesa - o que não tem acontecido- não podemos dizer que estamos num bom caminho em termos de gestão florestal e em termos de mudar o estado das coisas da floresta portuguesa”, disse.

Como exemplo, este especialista fala nas zonas de intervenção florestal. “Entretanto já passaram praticamente 10 anos e apesar de nós termos perto de 1 milhão de zonas de intervenção florestal (ZIF) em Portugal não vemos nada a mexer no terreno. A paisagem continua igual ao que estava e em muitos casos pior. Aquilo que arde em áreas de ZIF é basicamente o que arde nas outras. Foi uma evolução basicamente administrativa mas muito pouco em termos de gestão do território”, referiu.

Mais dez anos são necessários, diz este especialista que é trabalho para vários governos. “Eu acho que vamos demorar muito. Mesmo que haja um governo que tome decisões que, até agora, não tem havido coragem de tomar no sentido de levar essa gestão ao terreno… Mesmo que isso fosse feito agora. Eram precisos no mínimo dez anos para vermos qualquer coisa mudar no terreno”.