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Combustíveis "low cost" em todos os postos. Um barato que sai caro?

17 abr, 2015

Todas as estações de serviço têm de ter, a partir desta sexta-feira, pelo menos, uma ilha de abastecimento de combustível sem aditivos. Numa ronda pelas principais petrolíferas, verifica-se que a diferença de preço entre aditivados e não aditivados não é significativa.

Combustíveis "low cost" em todos os postos. Um barato que sai caro?
Chamam-lhes "low cost", o termo mais apelativo à carteira do consumidor. Na verdade, são combustíveis simples, sem os aditivos que, segundo as grandes marcas, melhoram os desempenhos e prolongam a longevidade dos motores modernos. Mas será este argumento apenas um mito? As opiniões dividem-se.

Prejudica o motor?
"Ao longo dos últimos 30 anos, as várias companhias petrolíferas vêm desenvolvendo aditivos que realmente melhoraram os combustíveis", refere à Renascença o investigador Jorge Martins, do departamento de mecânica da Universidade do Minho.

Para o especialista, o uso de combustíveis aditivados pode ser decisivo na redução da factura da oficina. "Poderá haver problemas de injectores entupidos ou problemas nas bombas. Sempre que se fala a este nível, está-se a falar de muitas centenas de euros", explica.

Opinião semelhante tem o presidente da Associação das Empresas de Comércio Automóvel (Anecra), representante dos construtores automóveis. António Chicharo diz que, quando há problemas causados pela utilização de combustíveis não aditivados, "tudo o que se refere com a injecção do carro, com a circulação do gasóleo e com os filtros tem de ser tudo renovado".

"O gasóleo dentro dos depósitos tem de ser todo retirado e tem de haver uma limpeza completa de todo o circuito da parte do gasóleo, das bombas injectoras. Depois, se o carro tiver dentro do período de garantia, as pessoas querem accionar a garantia e os fabricantes não lhe dão cobertura, porque a avaria dos motores é provocada pelo combustível que está a ser utilizado", alerta.

"Se tivesse conhecimento de problemas, não utilizava no meu carro"
Os representantes da reparação automóvel contrariam a tese de que há problemas associados a estes combustíveis. Dizem não ser habitual as oficinas receberem viaturas avariadas por causa da utilização dos combustíveis de baixo custo.

"Houve no passado reconhecimento de alguns problemas, mas foram pontuais. Não me foram reportadas até ao momento, quaisquer questões relacionadas com a utilização de combustíveis 'low cost'", garante à Renascença António Teixeira Lopes, presidente da Associação Nacional do Ramo Automóvel.

"Se me tivessem reportado esses problemas, eu não iria utilizar esses combustíveis no meu automóvel pessoal. Nem entendo que gasolineiras reputadas pudessem vender combustíveis não aditivados que pudessem prejudicar os motores. Era um contra-senso. O que se deve é esclarecer se os combustíveis podem trazer melhorias e se a diferença de preço justifica essas melhorias. Eu não acredito", sustenta ainda.

A associação de defesa do consumidor Deco também contraria a versão do presidente da Anecra.

"Nunca vi nenhum fabricante de automóvel recomendar o uso de combustíveis aditivados ou desaconselhar qualquer combustível simples na utilização do seu produto, o carro", afirma Vítor Machado, responsável da associação pelos estudos sobre o mercado dos combustíveis, cujas conclusões são de que não há diferença alguma entre combustíveis mais ou menos caros.

"Low cost" obrigatório, mas nem sempre "low"
A partir de sexta-feira, todos os postos de abastecimento têm de disponibilizar, pelo menos, uma ilha com combustível de baixo custo. A aditivação do produto terá de estar visível num dístico colocado na própria bomba: gasolina simples 95 sob fundo verde, gasóleo simples sob fundo negro.

A Renascença saiu à rua logo de madrugada para verificar as mudanças e a conclusão é de os preços praticados nas principais petrolíferas estão longe dos executados nos postos dos hipermercados.

Sejamos concretos. A Galp retirou a gama "Premium" e aposta nos combustíveis de gama normal, com preços mais baixos. As restantes petrolíferas optaram por manter a oferta de topo e retirar parte da oferta de combustíveis intermédios, substituindo-a por combustíveis sem os aditivos tradicionais. Mesmo assim, não se prevê uma diferença significativa de preços.

As petrolíferas justificam-se, dizendo que o "low cost" está mais relacionado com o modelo de negócio dos postos de abastecimento, com estruturas de espaço reduzidas e rendas de espaço mais baixas do que propriamente com o tipo de produtos não aditivados que possam vender.

Quem chega esta sexta-feira a um posto de abastecimento quase não nota diferenças. A alteração são os pequenos autocolantes nos locais onde estão os combustíveis não aditivados.