27 mar, 2015
O secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, anunciou que as companhias aéreas sediadas em Portugal passam a ter de voar com duas pessoas no "cockpit". A medida é para ser aplicada no imediato e aplica-se a todas as “companhias sediadas em Portugal”: a TAP, a Portugália, a SATA, a EuroAtlantic, a White e a Hifly.
"Passa a ser obrigatória a recomendação de dois tripulantes nos 'cockpits' para as companhias sediadas em Portugal”, disse o governante em conferência de imprensa, que decorreu no Ministério da Economia, em Lisboa. Outras companhias aéreas de vários países adoptaram a mesma medida, na sequência da tragédia provocada pelo co-piloto de um voo da Germanwings, na terça-feira.
A TAP aguardava por uma recomendação da Agência Europeia e do Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC) sobre eventuais alterações nas regras de segurança.
Esta directiva aplica-se neste momento apenas a companhias sediadas em Portugal. Outras empresas do sector, mesmo tendo bases em aeroportos nacionais, não estão abrangidas. Uma delas, a Easyjet, também passou a exigir dois pilotos em permanência no "cockpit".
Sérgio Monteiro rejeitou responder a questões técnicas sobre quem são as pessoas que podem ocupar o "cockpit" na ausência de um dos pilotos. Já sobre se esta medida não pode introduzir novas vulnerabilidades, afirmou que "essas matérias são decididas por quem sabe da matéria. O que é entendido a nível europeu é que devia haver esta alteração".
E a avaliação psicológica?
A TAP tem procedimentos que obrigam os pilotos a fazerem exames médicos anuais, sendo que a mesma obrigatoriedade não se coloca à avaliação psicológica, como avançou a Renascença na quinta-feira.
O secretário de Estado diz que já entrou em contacto com a administração liderada por Fernando Pinto "para fazer uma reavaliação de todos os sistemas de segurança". "Mas temos toda a confiança nas decisões que vierem a ser tomadas", acrescentou.
O INAC está a ultimar um outro relatório que na próxima semana será enviado ao Governo. Sobre se esse documento deverá trazer recomendação sobre a avaliação psicológica aos pilotos, Sérgio Monteiro não quis adiantar informações: "Não vou especular sobre o trabalho que se está a fazer. Se o INAC decidir que se deve fazer novas directivas fá-lo-á".
Sobre os encargos que, por exemplo, a TAP terá com a aplicação desta directiva, Sérgio Monteiro foi liminar: "A segurança não pode ter discussões financeiras. Custe o que custar. A TAP é das companhias mais seguras do mundo".
A Associação Alemã de Aviação (BDL) e a sua congénere austríaca decidiram adoptar, esta sexta-feira, a regra de duas pessoas em permanência na cabine de voo dos seus aviões, numa reacção ao acidente aéreo de terça-feira.
Já na quinta-feira várias companhias aéreas tomaram decisões no mesmo sentido, nomeadamente a "low cost" britânica Easyjet, a norueguesa Air Shuttle, as canadianas Air Canada e Air Transat e a islandesa Icelandair.
Estas novas regras pretendem evitar uma tragédia semelhante à de terça-feira (24 de Abril) no Alpes franceses. A investigação ao acidente em França concluiu que o piloto do voo da Germanwings se ausentou do "cockpit", provavelmente para usar os sanitários, e foi impedido de voltar a entrar pelo co-piloto, que bloqueou a porta.
Nesse período, Andreas Lubitz, de 28 anos, accionou "deliberadamente" o processo de descida do avião, ignorando as pancadas na porta, as tentativas de comunicação da torre de controlo e os alarmes do próprio aparelho. O avião acabou por embater numa montanha, matando Lubitz e outras 149 pessoas.