27 fev, 2015
Cerca de duas dezenas de bonecas estão expostas no Espaço Europa, no Centro Jean Monet, em Lisboa, até dia 7 de Março. Bonecas todas feitas à mão: cabeça, mãos e corpo em pasta de papel, pernas em tecido, cabelo de lã, os vestidos de chita ou tecidos no tear; os bordados e as rendas feitos à mão. Os brincos, os colares e as perneiras, em crochet com linha e agulha muito finas. O vestido de azulejos, pintado à mão.
São obras de arte que saem das mãos de algumas artesãs do concelho de Odemira, integradas num projecto financiado pelo Conselho da Europa e que começou com a formação dada por uma artista russa na Cooperativa Taipa.
A ideia foi de uma italiana - Gilda Farrell - apaixonada há muito por Portugal e que vive agora no Alentejo. Aproveitou a sua experiência no Conselho da Europa e as suas funções no programa comunitário LIDER, em que Portugal era um dos países que acompanhava.
Gilda Farrel criou o projecto PHILOZOIA – Amor pela Vida – e através dele dá trabalho a mais de uma dezena de artesãs que fizeram o curso de formação. Mulheres desempregadas, sozinhas com filhos e com dificuldades económicas mas “com vontade de criar e trabalhar”.
Nesta exposição estão apenas bonecas com trajes típicos portugueses mas a ideia é alargar à União Europeia, na sequência de pesquisa da diversidade etnográfica.
Gilda Farrell não se conforma e em entrevista à Renascença desabafa: “Nós somos ricos de diversidade na Europa mas damos barbies às nossas filhas. E a Barbie é um standart que não corresponde a nada, é um plástico feito em série em qualquer país do mundo. Não temos, os pais não têm o cuidado de pensar que as relações que as crianças têm com os objectos são importantes. E que um objecto pode transmitir a nossa diversidade e identidade”.
Por outro lado, esta é uma forma de dignificar o trabalho. Cada boneca é única e em muitos casos, feita por diversas artesãs, conforme as técnicas que melhor dominam. Algumas já conseguem fazer um trabalho quase completo. É o caso de Isabel Lameira, uma ceramista de 49 anos. Com trabalho só no Verão, quando soube do curso na Cooperativa Taipa, inscreveu-se e foi seleccionada.
À Renascença, Isabel Lameira confidenciou com entusiasmo que a formação já lhe mudou a vida. Para além de mostrar a beleza da cultura portuguesa através da recriação dos trajes típicos, sabe que pode ter muito trabalho, “um emprego o ano inteiro”.
Mas a procura ainda não atingiu o nível desejado por Gilda. Reconhece que as bonecas não são baratas - muito para cima de 100 euros, conforme a margem de comercialização de quem vende. Mas também porque um trabalho artesanal como este tem que ser bem pago. “Ninguém consegue criar se o trabalho não é compensado justamente. Não vale a pena reduzir os preços deixando as pessoas em dificuldade quando queremos ter um produto que reflecte a beleza, a dignidade humana”, sublinha Gilda Farrell.