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Mais de um em três professores chumbou avaliação

26 jan, 2015

O Governo considera que estes resultados comprovam a necessidade do exame, enquanto a Fenprof alega que os chumbos não provam que estes professores sejam piores que os outros.

Quase 35% dos 2.490 docentes inscritos na prova de avaliação, que entregaram um exame válido, reprovaram no teste, e quase 290 obtiveram a sua segunda reprovação, na prova realizada em Dezembro passado, revelou o Instituto de Avaliação Educativa (IAVE).

Os dados constam de um relatório divulgado esta segunda-feira pelo IAVE, com os resultados obtidos na Prova de Avaliação de Conhecimentos e Capacidades(PACC), realizada em Dezembro, para a qual estavam inscritos 2.863 candidatos, mas da qual apenas foram validadas 2.490 provas.

Além de 360 faltas, houve ainda 10 desistências e três anulações de provas.

Em reacção a estes resultados, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) defende, em comunicado, que os resultados obtidos pelos professores na prova de avaliação docente “vêm mostrar, mais uma vez, a necessidade desta prova na selecção dos candidatos à profissão”.

“É nossa ambição, por um lado, que a profissão de professor seja das mais exigentes e, ao mesmo tempo, das mais desejadas e respeitadas e, por outro, que seja também um incentivo a uma maior exigência na formação inicial dos candidatos a professores”, declarou a tutela.

Opinião diferente tem a Fenprof. O secretário-geral Mário Nogueira afirma que as reprovações na avaliação dos professores não provam que esses docentes sejam “piores ou menos competentes” que os outros.

Esta prova “é de uma completa inutilidade, é tão inútil para avaliar a capacidade dos professores, como o actual ministro da Educação é inútil para a educação em Portugal”, disse à agência Lusa Mário Nogueira.

“Não há nenhum professor, dos que reprovaram na prova, que tivesse ficado provado que era pior professor e menos competente que os que não reprovaram e o contrário também é verdade, porque esta prova não avalia nada”, salientou o líder da Fenprof, convidando os portugueses a lerem o enunciado da prova.

Um chumbo em três
Segundo o IAVE, 34,3% dos candidatos reprovaram na prova e, entre esses, há quase 290 candidatos, cerca de 11% do total, que reprovaram pela segunda vez, depois de terem chumbado na prova realizada em Dezembro de 2013, ou em Julho de 2014.

Do total de provas válidas, 1.636 tiveram uma classificação positiva (acima dos 50 pontos, até um máximo de 100), e 854, uma classificação negativa.

A média das classificações fixou-se pouco acima do limiar da positiva dos 50 pontos, com um registo de 56,2 pontos.

Apenas os aprovados na prova de Dezembro passado, correspondente à componente comum da PACC, podem agora inscrever-se para realizar a componente específica, que tem em conta os grupos de recrutamento nos quais os professores leccionam ou pretendem leccionar.

Separando os inscritos na PACC, entre os que estavam a realizar a prova pela primeira vez, e aqueles que iam realizar o exame pela segunda vez, são os deste último grupo que obtém os piores resultados na prova de Dezembro, com uma taxa de reprovação de 53,1% e um resultado médio de 48,9 pontos.

Quase metade dos docentes obteve uma classificação entre os 50 pontos e os 69,9 pontos.

A análise permite ainda concluir que mais de 65% dos professores deu pelo menos um erro ortográfico no ponto de elaboração de um texto, chegando quase aos 20% a percentagem de docentes que escreveu um texto com cinco ou mais erros de ortografia.

A PACC, realizada por todos os docentes contratados com menos de cinco anos de experiência, é condição essencial para aceder à carreira docente.

A prova, uma das bandeiras políticas do ministro da Educação, Nuno Crato, que a defende como condição essencial para melhorar a qualidade do ensino nas escolas portuguesas, tem sido alvo de forte contestação sindical, tendo a sua primeira edição, em 2013, motivado protestos que obrigaram a tutela a agendar uma segunda data para a realização da componente comum para todos aqueles que foram impedidos de a fazer na data marcada.

As dificuldades criadas pelos protestos, mas também pelas providências cautelares interpostas pelos sindicatos, e aceites em tribunal, levaram a que a componente específica da PACC não se realizasse no ano passado.

A PACC e a forma como tem decorrido a sua aplicação já mereceram apreciações negativas do provedor de Justiça e um parecer muito crítico do Conselho Científico do IAVE, o organismo responsável pela sua aplicação.