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PJ fala em meios "dramaticamente escassos", a ministra em "milagres"

09 dez, 2014

Paula Teixeira da Cruz anuncia o recrutamento de 120 inspectores. Resultados atingidos foram "à conta da abnegação e do sacrifício pessoal", diz o sindicato.

Os inspectores da Polícia Judiciária dizem não ter meios suficientes para combater a corrupção, mas a ministra da Justiça reitera que se houvesse dinheiro poderiam existir mais meios. Mesmo assim, disse Paula Teixeira da Cruz, os resultados estão à vista.
 
Num abaixo-assinado, que entregaram esta terça-feira à ministra, os inspectores falam em carros velhos que "comprometem a segurança" dos agentes.

"A média etária dos carros são dez anos e meio com cerca de 180 mil quilómetros", afirmou Nuno Domingos, presidente da direcção regional sul da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal (ASFIC/PJ), exemplo de uma "situação é insustentável", com meios de investigação criminal "dramaticamente escassos".

A ministra da Justiça reitera que se houvesse dinheiro poderiam existir mais meios, mas, mesmo assim, os resultados estão à vista. "É sempre impossível ter tudo, mas temos, com certeza, meios para agir. Não havendo meios não há resultados. Como costumo dizer, no princípio era a verba. Mesmo assim temos feito milagres", assegurou.

"Milagres" atingidos "à conta da abnegação e do sacrifício pessoal", acusa Nuno Domingos.

"As pessoas atingiram o limite", disse, referindo ainda que os meios humanos que a ministra da Justiça promete com o lançamento de um concurso para inspectores não vai resolver o problema desta polícia, porque o concurso se vai arrastar "até 2019 ou 2020".

Paula Teixeira da Cruz anunciou a abertura de um novo concurso o recrutamento de 120 inspectores para "reforçar o combate à criminalidade mais grave e complexa" e preencher as vagas deixadas por aposentações na Polícia judiciária.

Preocupados com “pormenores”
"Estou na Polícia Judiciária há 33 anos e posso garantir que nunca tivemos tantas condições de trabalho como temos hoje", desdramatizou o director nacional da Polícia Judiciária.

Face às acusações dos cerca de 90% de inspectores que assinam abaixo-assinado entregue à ministra da Justiça, Almeida Rodrigues admite ser necessário "renovar os recursos humanos, o parque automóvel e o parque informático", mas sublinha: "Fazemos caminho, caminhando".

"Todos os dias estamos a tentar, apesar das dificuldades orçamentais, fazer mais alguma coisa", disse, garantindo ser possível combater com eficácia a corrupção com os meios disponíveis. Por outro lado, lamenta que as queixas digam respeito ao que diz serem pormenores: "Se me disserem que, numa operação com 200 inspectores em que se fizeram buscas por todo o país, um carro avariou, isso significa que todos os outros funcionaram bem".

A Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária conta com cerca de 100 inspectores para investigarem mais de 4.600 processos-crime, revelou à Lusa a Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal.

No dia em que se assinala o Dia Internacional do Combate à Corrupção, instalações da Polícia Judiciária em Lisboa acolhem a conferência "Combate à Corrupção".