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Cante alentejano é “uma emoção” que não se explica

27 nov, 2014 • Rosário Silva

É uma das 46 candidaturas, submetidas por vários países, à inscrição na lista representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO.

Cante alentejano é “uma emoção” que não se explica
Há 35 anos, Joaquim Soares fundou o Grupo Coral Cantares de Évora. Hoje é professor de cante. Ensina quem quiser aprender e ajudar a eternizar uma expressão cultural que não é só do Alentejo, mas do mundo: a Unesco classificou esta quinta-feira este modo de cantar como Património Cultural Imaterial da Humanidade.

"Mesmo tristes, nós cantamos. De tal forma que a tristeza interior não transparece e transforma-se numa expressão de alívio", diz Joaquim Soares. O mestre, como muitos lhe chamam, está dedicado à arte de corpo e alma.

Fala-nos de uma tristeza que renasce em alegria e num sol que aquece mas não queima. O que gosta de fazer? "Ensinar a tradição desta estrutura melódica que é o cante tradicional. Tenho um livro com 90 temas que mostro a quem está interessado em seguir as modas. A pessoa pede para ouvir um tema e eu consigo transmitir com fidelidade o que aprendi quando era miúdo".

Dedicado ao cante, desdobra-se em oficinas de trabalho nesta área. Para além do grupo coral que dirige, tem outros grupos onde voluntaria o seu saber.

Embora associado à dureza do campo de outros tempos, o cante alentejano continua a ser a expressão de um povo que resiste às agruras da interioridade.

Mais velhos ou mais novos, sejam homens ou mulheres, a responsabilidade de manter viva a tradição não tem sexo nem idade. "Os detentores deste saber, são os que cantam e, por isso, devem ter a preocupação de valorizar o seu grupo, a sua região, e perpetuar este nosso património".

"Com os meios que temos hoje, é tudo mais fácil. Devemos ter a certeza que vamos deixar aos vindouros uma herança que terá de ser o mais fiel possível ao cancioneiro criado por homens e mulheres ao longo dos tempos", diz.

"É uma emoção que não tem explicação."