22 nov, 2014 • João Carlos Malta
O ex-líder do Bloco de Esquerda Francisco Louçã disse, este sábado, não compreender a necessidade que muitas vezes a justiça portuguesa tem de deter os suspeitos para interrogatório. Louçã falava de José Sócrates, mas acrescentou outro nome: Ricardo Salgado.
"Em Portugal há sempre o processo estranho de deter para interrogar", disse Francisco Louçã à entrada da convenção do Bloco de Esquerda que decorre, este fim-de-semana, no Pavilhão do Casal Vistoso, em Lisboa, quando instado a comentar a detenção do ex-primeiro ministro José Sócrates.
"[Caso haja] perigo de fuga percebo muito bem que se detenha para fazer interrogatórios destruição e evitar a destruição de provas”, disse Louçã, mas este não lhe parece ser um caso em que estas questões se coloquem.
O ex-líder do Bloco deu ainda o exemplo de Ricardo Salgado. "Era meu inimigo, um adversário, mas não tinha sentido nenhum detê-lo quando ele soube no dia anterior que ia ser chamado a depor", disse. Para Louçã, estas situações fazem muito mal a credibilidade da justiça.
Para Francisco Louçã era necessário que a Justiça fosse nestes casos “mais rápida” e “tivesse mais meios” para poder resolvê-los “em poucos meses”.
Na opinião do bloquista, “todos os grandes casos são fundamentais para a democracia”. Mas ressalva: “temos muito poucos elementos”. E Louçã diz não querer “confundir a surpresa com juízos precipitados”.
Já outro dirigente do Bloco, Luís Fazenda, no mesmo local, afirmou: "temos que estar preparados para todos os acontecimentos na vida pública".
“À justiça o que é da justiça”
A coordenadora do Bloco de Esquerda Catarina Martins recusou comentar a detenção do ex-primeiro ministro, afirmando que essa é uma investigação que cabe às autoridades judiciárias.
"À política o que é da política, à justiça o que é da justiça ", declarou a coordenadora do Bloco de Esquerda, citada pela Lusa.
O ex-primeiro-ministro José Sócrates foi detido na sexta-feira à noite, quando chegava ao aeroporto de Lisboa, no âmbito de um processo de suspeitas de crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção.
Esta é a primeira vez na história da democracia portuguesa que um antigo primeiro-ministro é detido para interrogatório.