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Ordem alerta para "défice crónico" de enfermeiros

21 nov, 2014

Sindicato regista uma adesão à greve desta sexta-feira de 80% durante o turno da noite.

Ordem alerta para "défice crónico" de enfermeiros
O vice-presidente da Ordem dos Enfermeiros alerta para o “défice crónico” destes profissionais, que pode, na opinião de Bruno Noronha comprometer a qualidade dos cuidados de saúde.

“Mais do que estar a fazer uma greve em prol de um interesse corporativo, esta é uma greve, acima de tudo, em prol do interesse das pessoas”, disse à Renascença.

O Sindicato dos Enfermeiros Portugueses regista uma adesão à greve de 80% durante o turno da noite.

Os enfermeiros cumprem esta sexta-feira o segundo e último dia de greve nacional em protesto pelos cortes salariais nas horas extraordinárias, exigindo a progressão na carreira e a reposição das 35 horas de trabalho semanais.

“Temos muito poucos enfermeiros, que estão a sair, ou porque emigram, ou porque se reformam, ou porque deixam a profissão, e não são substituídos. E isto traduz-se numa limitação do acesso das pessoas aos serviços”, lembra ainda Bruno Noronha.

Faltam quase dois mil na região sul
Segundo um estudo da Ordem dos Enfermeiros faltam 1.779 enfermeiros nas 117 unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) da região sul do país, para garantir o "funcionamento com segurança dos cuidados prestados".

Dados do estudo realizado pela Secção Regional do Sul da OE revelam que nas 44 unidades de internamento, de um total de 117 que responderam ao estudo, trabalham 412 enfermeiros (93% generalistas e 7% especialistas), faltando 659 destes profissionais, tendo por base o documento para o cálculo da dotação segura.

Se estes dados forem extrapolados para as 117 unidades de internamento existentes entre Santarém e Faro faltam 1.779 enfermeiros, o que significa que, em média, faltam 15 enfermeiros em cada unidade.

O enfermeiro Alexandre Tomás explicou à agência Lusa que o número de enfermeiros em falta não é igual em todas as unidades. "Cada uma das unidades da rede, de convalescença, de média duração, de longa duração ou de paliativos tem uma necessidade própria de número de enfermeiros que decorre do tipo de utente que está nessa unidade", sustentou.

O estudo constatou ainda a carência de enfermeiros especialistas nestas unidades, "o que pode condicionar a capacidade de resposta destes profissionais".

De acordo com a OE, existem 2.749 lugares de internamento na rede na região sul, distribuídos por Unidades de Longa Duração (50,4%), Unidades de Média Duração (27,4%), Unidades de Convalescença (12,8%) e Unidades de Cuidados Paliativos (9,4%).

Muitas camas, poucos profissionais
Sobre a taxa de ocupação nas unidades estudadas, a investigação refere que "é elevada", sendo maior nas Unidades de Convalescença e de Longa Duração, 97,35% e de 97,52%, respectivamente.

Para Alexandre Tomás, estes dados permitem afirmar que "as unidades da rede têm uma efectiva carência de enfermeiros" e que "a rede nacional de cuidados continuados não consegue responder às necessidades das pessoas que estão internadas em unidades hospitalares e que necessitam de resposta desta rede".

Levantam ainda "duas questões paradoxais", disse, explicando: Por um lado, há "uma efectiva carência de enfermeiros" nestas unidades de acordo com a orientação da Ordem dos Enfermeiros, mas, por outro lado, uma recente portaria que regula o funcionamento dessas unidades "diz que ainda são precisos menos profissionais".

As 117 Unidades de Internamento da RNCCI na região sul dão resposta a 4,4 milhões de habitantes, sendo que 851.694 habitantes têm mais de 65 Anos, que representam 19,2% da população.