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Portugal avalia apoio logístico a exército da Ucrânia

21 nov, 2014 • José Pedro Frazão

Um ano após o início dos protestos na Praça da Independência em Kiev, os ucranianos dizem que o inimigo não é a Rússia mas quem está no poder em Moscovo. O encarregado de Negócios da Embaixada ucraniana em Lisboa pede mais acção à Europa e elogia as posições do Governo português.

O Encarregado de Negócios da Embaixada da Ucrânia em Lisboa revela que o Ministério da Defesa de Portugal está a estudar o envio de roupas e tendas para o exército ucraniano passar o Inverno. Leonid Tretiak elogia o Governo de Passos Coelho pelo apoio prestado à Ucrânia em vários momentos.
 
“Estimo como muito alto o nível de apoio do governo português. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, exprimiu o seu apoio e assistência à Ucrânia durante os seus compromissos diplomáticos na Europa e no Mundo, com ainda maior frequência que os ministros dos negócios estrangeiros dos nossos países vizinhos. E isto é muito bom para nós. Com o apoio do ministro português dos Negócios Estrangeiros, o ministro da Defesa nacional está a examinar a possibilidade de enviar para a Ucrânia alguns bens de que o nosso exército precisa durante o Inverno, como roupas ou tendas, por exemplo. Estamos a falar de material muito importante para nós. E por isso expresso a minha gratidão a Portugal, que muito estimamos”, diz o diplomata em entrevista à Renascença. 
 
Como parar a guerra?
Um ano do início da revolta da Praça da Independência em Kiev, que acabou por derrubar o Presidente Viktor Ianukovich, assinala-se esta sexta-feira o "Dia Nacional do Mérito e da Liberdade" na Ucrânia.
 
Leonid Tretiak diz que a prioridade do momento é o fim das hostilidades no leste do país. O inimigo é a política de Putin, não a Rússia. “Não somos inimigos. Neste momento, não estamos a combater a Rússia, mas a política de dominação de uma Rússia federativa, um governo e um presidente da República russos ‘permanentes’ e as suas políticas agressivas contra a Ucrânia e outras partes da ex-União Soviética”, esclarece.

Quase mil pessoas morreram no leste do país desde o cessar-fogo assinado entre os separatistas e o governo ucraniano, em Setembro em Minsk, Bielorrússia. O número é apresentado pelo Comité de Direitos Humanos das Nações Unidas, que estima que, nas oito semanas desde que a trégua entrou em vigor, morreram, em média, 13 pessoas por dia. O relatório descreve ainda um cenário de colapso da ordem pública nas zonas separatistas de Donetsk e Lugansk e aponta também para fortes indícios de abusos cometidos pelas forças governamentais.

O Encarregado de Negócios da Ucrânia em Lisboa recusa conversações com os separatistas pró-russos e acusa Moscovo de adoptar um duplo discurso. “Os russos dizem que sim, estão prontos [a negociar]. E, ao mesmo tempo, continuam a apoiar os separatistas, a concentrar forças militares junto às fronteiras da Ucrânia e a fornecer armamento pesado aos separatistas. Estamos preparados e disponíveis para falar com as várias partes legais, repito, legais, deste conflito e não com estes terroristas. Nestas conversações, os ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros russos são representantes legais, mas apenas de um dos lados. Nós também precisamos de representantes legais do lado oriental da Ucrânia, que possam expressar os verdadeiros desejos das populações destes territórios. Mas nunca estes terroristas pró-separatistas”, assegura.    

A Europa tem que fazer mais
No palácio presidencial e no Parlamento, em Kiev, os actuais inquilinos são pró-europeus. Nas últimas semanas, Kiev assinou, finalmente, um acordo de associação com a União Europeia. Leonid Tretiak considera que “neste momento não chega apoiar a Ucrânia apenas através de palavras. É necessário agir, fazer alguma coisa. Temos de parar esta agressão e esta pressão, neste momento em que se encontra. E não deixar que ela se alastre pela Ucrânia para outros países europeus. As instituições europeias podem, em primeiro lugar, assumir o papel de mediadores nas negociações de paz entre todas as partes. Em segundo lugar, é possível abrir mais missões de observação, não apenas missões de observação da OCDE. Terceiro ponto, precisamos também de assistência material, não apenas financeira, mas de bens de primeira necessidade e de outras coisas de que precisamos para reconstruir as áreas destruídas do país e para renovar a economia da parte leste da Ucrânia, depois da época de cessar-fogo e do fim da guerra”.