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PS

Uma simpatia sem grande convicção

19 set, 2014 • Dina Soares, com André Rodrigues, Liliana Carona, Olímpia Mairos e Rosário Silva

Três meses bastaram para que o número de simpatizantes do PS ultrapassasse o de militantes. Se alguma coisa une pessoas tão diferentes, é a ideia de que os cidadãos não são ouvidos.

Uma simpatia sem grande convicção
Os simpatizantes do PS vão ter mais peso na escolha do candidato socialista ao cargo de primeiro-ministro do que os próprios militantes. Um processo que é uma estreia em Portugal, inscreveram-se 145 mil pessoas, oficialmente sem partido, e que decidiram aproveitar a abertura criada pelas eleições primárias para influenciarem de forma mais directa as escolhas políticas.

Ser português, ter mais de 18 anos, não ser militante de nenhum partido e não estar a contas com a justiça. São estes os requisitos que 145 mil pessoas tiveram que preencher para poderem inscrever-se como simpatizantes do PS e, assim, ganharem o direito de voto nas eleições primárias do partido.

O processo começou a 15 de Julho e três meses bastaram para que o número de simpatizantes ultrapassasse, em muito, o de militantes chamados a escolher o candidato socialista à chefia do Governo, no caso de o PS ganhar as próximas eleições legislativas.

Pedro Sousa é o responsável pelo departamento de informática de uma Faculdade em Lisboa. Aos 50 anos, nunca aderiu a nenhum partido, embora a política faça parte do seu dia-a-dia. “O que me levou a participar foi a necessidade de intervir no PS, mas também no país”, explica.

Uma motivação que vai, pelo menos, de Lisboa à Guarda. É lá que vive e trabalha Carla Torres, funcionária pública, também ela simpatizante. “Gostaria de ver uma mudança no PS. Penso que isso poderia trazer uma lufada de ar fresco à política, embora considere que vai ser muito difícil alguém endireitar o país depois da situação a que chegámos”, diz à Renascença.

Primárias não fazem milagres
É certo que quem vai votar no dia 28 não acredita que as primárias façam milagres. Maria dos Anjos Couto, professora aposentada de Sapião, concelho de Boticas, inscreveu-se nas primárias porque “as coisas têm que mudar e para isso é preciso alguém que esteja melhor preparado, senão esta luta não vale a pena”.

Na mente de todos, está a ideia de que “é preciso começar por algum lado”. João Pedro Dias, técnico superior, em Évora, aderiu a esta ideia com reticências. “Sou a favor de primárias, mas não desta forma. Uma escolha feita à pressa não tem futuro. É preciso que o processo amadureça, porque há, de facto, um défice de participação política dos cidadãos”, argumenta.

Se alguma coisa une pessoas tão diferentes é, efectivamente, a ideia de que os cidadãos não são ouvidos. “De quatro em quatro anos, vamos votar e, logo a seguir, esquecem-se de nós”, queixa-se Maria dos Anjos, a professora de Boticas.

José Carlos Botelho, arquitecto no Porto, também já não acredita que os partidos, fechados no seu próprio mundo, sejam capazes de encontrar as soluções que se impõem: “Neste momento, é muito importante que os partidos se abram a todos os cidadãos e que contemplem todos os contributos válidos para sair da crise”.

No domingo, todos vão às urnas e, depois, é esperar para ver. Para já, ninguém tem planos passar ao patamar da militância. É que, simpatias à parte, a descrença nos partidos ainda domina e umas eleições primárias não chegam para restaurar a confiança.