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Barragem ameaça achados arqueológicos com mais de 10 mil anos

27 ago, 2014 • Maria João Costa

Associação de Arqueólogos Portugueses lamenta que ainda não tenha sido iniciado o processo de conservação por registo dos achados.

A mais antiga associação de arqueólogos de Portugal está preocupada com um conjunto de achados arqueológicos com mais de 10 mil anos, que foram encontrados durante a construção da Barragem de Ribeiradio-Ermida, em Sever do Vouga.

Em causa estão vestígios datados do paleolítico, que estão espalhados por mais de três mil metros quadrados e que foram localizados há dois meses.

A Associação de Arqueólogos Portugueses lamenta que não tenha sido iniciado o processo de conservação por registo dos achados encontrados durante a desmatação que antecede o enchimento da albufeira da barragem da EDP em Sever do Vouga.
               
Os vestígios encontrados há dois meses são do paleolítico, explica à Renascença o presidente da Associação de Arqueólogos Portugueses, José Arnaud.

“Trata-se de restos de um acampamento, que se estima que tenha entre três e cinco mil metros quadrados, dos últimos grupos de caçadores recolectores do paleolítico. Foi habitado pelos mesmos povos que fizeram as gravuras de Foz Coa”, sublinha.

O presidente da Associação de Arqueólogos Portugueses critica a EDP por não cumprir a legislação ambiental e do património que exige a preservação deste tipo de achados.

Os vestígios com mais de 10 mil anos estão há dois meses à espera de serem tratados, apesar dos alertas dos arqueólogos.

A EDP já rejeitou as acusações. À Agência Lusa a empresa alega estar a fazer todos os esforços para garantir os estudos antes do enchimento da albufeira.
               
A mais antiga associação de arqueólogos portugueses critica a forma como a eléctrica lida com os achados arqueológicos. José Arnaud denuncia outra situação em Lisboa, na construção da nova sede da EDP. “Se não tivessem sido os arqueólogos a intervir já durante a fase de obra ter-se-iam perdido vestígios muito importantes”, refere José Arnaud.

A Direcção-Geral do Património Cultural, que está a acompanhar o processo da construção da Barragem de Ribeiradio, já veio defender a originalidade dos achados que escaparam ao estudo de impacte ambiental do projecto.