Tempo
|

Ecos da Renascença, 25 de Abril e do PREC na imprensa de Joanesburgo

24 abr, 2014 • Mafalda Lacerda, em Joanesburgo

As bombas que destruíram os emissores da Renascença, o retomar das emissões da rádio e a indemnização de 12 mil contos do Estado à Emissora Católica são algumas das notícias que chegaram à África do Sul.

Ecos da Renascença, 25 de Abril e do PREC na imprensa de Joanesburgo

No período agitado do 25 de Abril e do Processo Revolucionário em Curso (PREC) foram várias as vezes que a Rádio Renascença foi notícia no jornal de língua portuguesa da África do Sul, o “Século de Joanesburgo”.

Foi a Renascença que emitiu a senha musical (E Depois do Adeus, de Paulo de Carvalho) que pôs em marcha a revolução que abriu as portas à independência de vários países africanos. Como tal, o assunto interessava a quem vivia no mesmo continente de cinco das colónias portuguesas: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe.

No dia 7 de Dezembro de 1975 os emissores da Rádio Renascença situados na Buraca, nos arredores de Lisboa, foram destruídos através da detonação de uma bomba. Escrevia o “Século de Joanesburgo” em título “Bomba paralisa Rádio Renascença”.

“Às primeiras horas da manhã de sexta-feira uma bomba destruiu o emissor da Rádio Renascença, a estação Católica, de que se apoderaram os comunistas e que se tornou na sua voz. A emissora deixou de estar ‘no ar’ logo após a explosão, que se julga ter causado grandes danos”, assim começava a notícia daquele semanário.
 
O jornal citava ainda um comunicado no qual se lia “que 60 paraquedistas se deslocaram para a emissora, onde fizeram explodir duas bombas que a paralisaram. De acordo com ordens recebidas após conversações entre o Conselho da Revolução e o Governo, que pretenderam assim eliminar a actividade dos comunistas naquela estação. Eram 4h00 da madrugada quando a rádio silenciou”.

Já em 1976, nos primeiros dias de Janeiro, escrevia o jornal: “Governo Português entrega a Rádio Renascença aos seus legítimos donos”.

Na notícia lê-se que foi anunciado oficialmente que o Governo português pretendia restituir a Rádio Renascença aos seus proprietários originários, a Igreja Católica. Desde a tomada dos emissores, a Renascença foi reduzida ao silêncio e conservada à guarda de tropas leais ao Governo. Nesse Janeiro de 1976, “o Governo comunicou que a estação poderia entrar em funcionamento logo que estivesse em condições de o fazer”, relata a notícia do jornal, acrescentando que “a administração da emissora encomendara já em Itália o equipamento necessário para substituir o que foi destruído, estando previsto o início de emissões para quinta-feira”.

Estado português paga 12 mil contos 
No fim desse ano, a 6 de Dezembro, o “Século de Joanesburgo” volta a escrever sobre a Renascença para indicar que o Conselho de Ministros tinha aprovado “uma importante resolução” relativa à “indemnização de 12 mil contos à Rádio Renascença”.

Relata o jornal que, segundo o secretário de Estado da Comunicação Social, “a ocupação dos emissores de Lisboa da Rádio Renascença constituiu não só uma grave ofensa à Igreja Católica e uma grave violação da liberdade de expressão, como uma ofensa à sensibilidade e aos valores culturais de grande maioria do povo português”.

“Essa ocupação criou no país um ambiente de tensão intolerável e obrigou as autoridades, perante a impossibilidade de então conseguirem o acatamento das suas determinações, recorrer à destruição das instalações da Rádio Renascença, na Buraca. Foi esse, na altura, o único meio de silenciar um posto emissor que hora a hora agredia cultural e ideologicamente milhões de portugueses”, acrescenta a notícia, citando as explicações do governante.

“Restabelecida a autoridade democrática, constituído o Governo, a Secretaria de Estado da Comunicação Social, no cumprimento de uma resolução do Conselho da Revolução e também do programa do Governo, determinou a formação de uma comissão paritária encarregada de proceder à avaliação dos prejuízos causados à Renascença, para ulterior indemnização. Avaliados os danos verificados no centro emissor da Buraca, da Rádio Renascença, pela explosão provocada no dia 27 de Novembro de 1975, na sequência de uma determinação do Conselho da Revolução, o governo autorizou agora o Ministério das Finanças a entregar aquela emissora católica portuguesa a importância de doze mil contos”, concluiu.

Outra notícia digna de destaque para aquele jornal foi divulgada no fim da década de 70, altura em que têm início na Renascença as emissões diárias experimentais em Onda Curta para os emigrantes portugueses, primeiro na Europa Central e, mais tarde, no Brasil. Este passo foi também relatado e até elogiado nas páginas do “Século de Joanesburgo”, jornal que serve a comunidade emigrante na África Austral.