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"Não se pode impor mais cortes a quem não aguenta mais"

02 abr, 2014 • Raquel Abecasis

Presidente do Banco Alimentar avisa, em entrevista ao "Terça à Noite" da Renascença, que "há limites que não se podem passar". "O pior inimigo dos desempregados são as redes sociais", diz.

"Não se pode impor mais cortes a quem não aguenta mais"
Em entrevista ao programa Terça à Noite da Renascença, a presidente do Banco Alimentar avisa que “há limites que não se podem passar”. Isabel Jonet considera que “ainda há muito onde podemos reduzir sem ter, necessariamente, que impor mais cortes aos pensionistas”.

A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, Isabel Jonet, considera que não se pode impor mais cortes aos pensionistas e funcionários públicos que “já não aguentam mais”.

O Estado tem alternativas e ainda muito desperdício para cortar e é por aí que a austeridade deve prosseguir, defende Isabel Jonet, em entrevista ao programa “Terça à Noite” da Renascença

“Ainda há muito desperdício na sociedade portuguesa, nas empresas públicas, nas empresas privadas - porventura menos porque a gestão é mais controlada. Eu acho que há ainda muito onde podemos reduzir sem ter, necessariamente, de impor mais cortes aos pensionistas. Não se pode impor mais cortes a um determinado conjunto de pessoas que já não aguenta mais. Há limites que não se podem passar, porque era um erro estratégico”, sublinha Isabel Jonet.

Para a presidente do Banco Alimentar, “desengane-se quem pensa que a crise está a chegar ao fim”, porque a recuperação económica “ainda não se reflectiu em nenhuma situação concreta”. “Penso que a crise aqui em Portugal ainda está para durar do ponto de vista das pessoas”, sustenta.

"O pior inimigo dos desempregados são as redes sociais"
Nesta entrevista à Renascença, Isabel Jonet diz que o crescimento do número de pessoas que estão em privação severa é o facto mais preocupante dos recentes dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e diz que isso é, em parte, resultado dos cortes feitos nas prestações sociais.

Os dados do INE reflectem “uma nova categoria de pessoas que está afastada do mercado de trabalho, embora sejam novos, e alguns trabalhadores pobres”, refere.

A responsável pelo Banco Alimentar considera que, perante o cenário que se vive em Portugal, é graças às instituições particulares de solidariedade social (IPSS) que não se registou ainda em Portugal uma ruptura social, não só por ajudarem a satisfazer as necessidades mais prementes, mas também porque “têm tido uma capacidade de fazer com que estas pessoas não estejam tão revoltadas, porque estas instituições têm também uma capacidade de acolher”.
 
Isabel Jonet considera ainda que “o pior inimigo dos desempregados são as redes sociais. Muitas vezes as pessoas ficam desempregadas e ficam dias e dias inteiros agarradas ao Facebook, ou agarradas a jogos, agarradas a amigos que não existem e vivem uma vida que é uma total ilusão”. Isabel Jonet recomenda que os desempregados procurem fazer trabalho voluntário que, apesar de tudo, os mantém activos e com mais possibilidade de encontrar um novo emprego.