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Dezenas de portugueses estiveram em campos de concentração nazis

27 mar, 2014

A existência de portugueses nos campos de extermínio nazis é um assunto ainda por estudar. Equipa liderada por Fernando Rosas está agora a investigar um capítulo esquecido da história.

Dezenas de portugueses estiveram em campos de concentração nazis

Pelo menos 70 portugueses estiveram nos campos de concentração nazis de Auschwitz e Birkenau e 300 foram sujeitos a trabalhos forçados durante a II Guerra Mundial, de acordo com uma investigação liderada pelo historiador Fernando Rosas.

“Há portugueses que se encontravam nos campos de concentração nazis, mas que estão nos campos por razões que se desconhecem. Pode ser por serem associais. Há certas categorias cuja punição era o campo de concentração", explica Fernando Rosas, em declarações à agência Lusa.

"Nós detectamos, por exemplo, um português de Cascais que é preso em Marselha e enviado para Auschwitz. Porque é que está em Auschwitz? Não é por ser emigrante, porque, quando muito, era obrigado ao trabalho forçado, mas não estaria num campo de concentração. Ou era resistente ou fazia parte daquelas categorias de associais e que eram mandados para os campos", referiu. 
 
O historiador e ex-dirigente do Bloco de Esquerda lidera um projecto de investigação realizado no âmbito do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, que envolve vários investigadores especializados nas relações luso-alemãs durante a II Guerra Mundial. 
 
"Obtivemos a primeira notícia através das informações que existem nos campos de concentração de que há vários portugueses mortos e o nosso projecto começou por aqui. Depois surgiu-nos a possibilidade de concorrer a um financiamento de uma instituição alemã que está interessada em financiar as investigações sobre o trabalho forçado na Alemanha", acrescentou Fernando Rosas. 
 
O trabalho forçado pelo III Reich era feito por pessoas que se encontravam nos campos de concentração ou por contratados ou simplesmente enviados pelos países ocupados e, por isso, a equipa de historiadores alargou o âmbito da investigação. 
 
"Chegamos à conclusão de que há dois tipos de trabalhadores forçados: aqueles que se encontravam nos campos e que, portanto, são escravos, e temos a presunção de que há portugueses nesta situação. São os escravos que trabalhavam para empresas como a IG Faber, por exemplo, em Auschwitz e Birkenau, e vamos à procura deles", afirmou Rosas, que vai concorrer a financiamento por parte de uma fundação alemã, visto não ter conseguido apoio por parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia portuguesa.  
  
Por que foram os portugueses para Auschwitz-Birkenau?
Para o estudo do trabalho forçado, os historiadores investigam a pista da emigração. Segundo Fernando Rosas, há várias dezenas de trabalhadores portugueses emigrados que são enviados pelas autoridades francesas colaboracionistas para solo alemão.  
 
O historiador considera também necessário estudar o eventual envolvimento do Estado português em todo o processo e tentar saber até que medida houve ou não recrutamento de trabalho forçado em solo de Portugal, tal como aconteceu em Espanha. 
 
Uma parte desses portugueses são republicanos que combateram na Guerra Civil de Espanha (1936-1939) e que se encontravam internados nos campos de refugiados no sul de França após a vitória das forças nacionalistas de Francisco Franco e levados para os campos de concentração nazis já durante a II Guerra Mundial, entre 1939 e 1945. 
 
Alguns escaparam dos campos de refugiados franceses e quando a França foi ocupada pelos nazis juntam-se à Resistência francesa e mais tarde foram "presos como resistentes vão para Auschwitz e Birkenau", relatou Fernando Rosas. 
 
A existência de portugueses nos campos de extermínio nazis é um assunto até ao momento inédito e nunca estudado, assim como a presença de trabalhadores portugueses como escravos em fábricas na Alemanha, tendo sido referido esta quinta-feira pela primeira vez pela revista "Visão". 
 
"Há uma série de organismos que se dedicaram à estatística dos presos dos vários países e ao trabalho forçado e nós já temos um número sobre esta situação e descobrimos há pouco tempo uma fonte que nos revelou, através de uma instituição na Alemanha que indemniza aqueles que foram obrigados a trabalhar no país, e detectamos que há mais de trinta pedidos de indemnização de portugueses e vamos agora investigar junto dos familiares", concluiu Fernando Rosas.