26 mar, 2014
Dezenas de pessoas que vivem na antiga unidade industrial Mecânica Setubalense foram confrontadas, há algumas semanas, com o corte da energia eléctrica e do abastecimento de água. Estas famílias necessitam "respostas imediatas", alerta o padre Constantino Alves.
"É urgente, inadiável e necessário, encontrar uma resposta em dois tempos: uma resposta para as necessidades do imediato, mas também uma resposta, a médio prazo ou logo que seja possível, que vise a transferência daquelas famílias para outros locais", disse o páraco da Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
"Pode haver pessoas, portugueses ou imigrantes, que ali estejam com outras motivações, mas cabe às autoridades fazerem essa triagem e darem o tratamento adequado a cada agregado familiar, sendo certo que é necessário agir rapidamente", defendeu o pároco, convicto de que as dificuldades de muitas famílias resultam, fundamentalmente, do flagelo do "desemprego e do trabalho precário".
Segundo Constantino Alves, nos contactos entre o proprietário do imóvel - o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS), Câmara de Setúbal, PSP, EDP e outras entidades, já terá sido proposta a instalação no local de um contador de obra para a electricidade, mas até agora nada foi feito.
Carla Barbosa, de 40 anos, e três filhos, dois deles menores, constitui um dos agregados familiares que reside nas ruínas da antiga fábrica de latas de conserva, na estrada da Graça, há cerca de nove anos e que ainda não vislumbra maneira de sair daquele espaço degradado e sem condições de habitabilidade.
Desempregada há três meses e à espera do subsídio de desemprego, Carla Barbosa vive sem água e sem luz desde há algumas semanas e diz não ter dinheiro para pagar uma renda de casa, apesar das ajudas que vai recebendo do marido, a trabalhar no estrangeiro.
"A situação está muito complicada. Há anos que a Segurança Social promete retirar daqui as pessoas que cá estão há mais tempo, mas essa promessa nunca se concretizou", disse Carla Barbosa.
Tutela analisa
Contactado pela agência Lusa, o Ministério da Solidariedade, Emprego e da Segurança Social informou que o IGFSS e o Centro Distrital da Segurança Social de Setúbal estão a "reanalisar" e a caracterizar a situação dos diferentes agregados familiares, com a colaboração da PSP, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e da Cáritas .
O Ministério da Solidariedade refere também que o IGFSS está a avaliar as condições de segurança do imóvel ocupado e a estudar as possibilidades de realojamento imediato daquelas famílias, mas diz que todas as casas de renda económica de que dispõe estão ocupadas.
A Câmara de Setúbal, que não se compromete com a eventual disponibilização de casas, até porque a autarquia tem cerca de dois mil pedidos de casas para famílias carenciadas, diz que está a acompanhar as diligências do IGFSS, no contexto do grupo de trabalho constituído para procurar soluções para os moradores na antiga Mecânica Setubalense.
Numa resposta por escrito, o gabinete do vereador Pedro Pina, responsável pelo pelouro Inclusão Social, diz apenas que acredita que estejam reunidas as condições que o proprietário do espaço em causa, o IGFSS, possa resolver o problema e promete todo o apoio possível da autarquia.