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Governo quer prolongar prazo para rescisões de professores

28 fev, 2014

Nova data deve ser anunciada antes do fim-de-semana. FNE mostra-se pouco convencida de que o alargamento do prazo se traduza “em muitas mais manifestações de vontade”. As condições apresentadas não eram favoráveis.

Governo quer prolongar prazo para rescisões de professores
Deve ser conhecido durante a tarde desta sexta-feira se os professores vão ter mais tempo para rescindir com o Estado. Fonte contactada pela Renascença junto do Ministério de Nuno Crato admite o prolongamento do prazo pela segunda vez e a nova data deve ser anunciada hoje.

Desde Novembro, apenas dois mil professores pediram para rescindir contrato. Esta semana, decorreram negociações entre os Ministérios da Educação e das Finanças sobre o assunto.

A Renascença foi falar com dois professores sobre este processo. Um vai rescindir, o outro, apesar de ser essa a sua vontade, não pode aceitar as condições de indemnização.

É uma frustração ser professor hoje em dia
Anabela tem 49 anos e 25 foram passados nas salas de aula do primeiro ciclo. Está cansada do actual sistema de ensino: “é burocrático, passamos horas em reuniões que não servem para nada. Não temos tempo para acompanhar os alunos com dificuldades. É um ensino que se quer de excelência, mas que acaba por ser medíocre”, queixa-se.

Além do curso de ensino básico, Anabela tem uma licenciatura em Antropologia e um mestrado e muitas horas de formação pedagógica.

Quando surgiu a hipótese de rescindir com o Estado nem pensou duas vezes. “Na altura, disse: ‘seja o que for que receba venho-me embora’. Nem fiz contas”.

Anabela é artista plástica, tem um atelier em Alfama e vai mudar de vida. Confessa que vai ter saudades das crianças: “passaram por mim mais de 600 crianças” e de “grande parte delas lembro-me do nome. Até já fui professora dos filhos. Dessa parte fico com saudades, mas de ensinar como se faz agora, não”, admite.

Não dá para viver com o dinheiro da indemnização
A música de Bach ouve-se no corredor do Conservatório de Música de Lisboa que vai dar à biblioteca. É lá que trabalha Paulo Campos, de 46 anos e professor de educação musical.

É apenas mais um professor desencantado, cansado e desanimado com o actual estado do ensino em Portugal. Gostava de abandonar o ensino, mas razões pessoais e o pouco dinheiro que recebe de indemnização decidiu não rescindir com o Estado.

“É perfeitamente insignificante. Eu tenho mais 20 anos para atingir a idade da reforma, e o dinheiro da indemnização dava para viver durante quatro anos”.

Paulo Campos diz que a situação dos professores de música ainda é mais delicada: “um professor para ter horário completo, precisa de ter 12 turmas. É impossível saber o nome do aluno que está à nossa frente. Ainda por cima, a carga horária foi reduzida, o que torna a situação mais grave”, lamenta.

A sindicalista Lucinda Dâmaso, da FNE, concorda. “O valor é reduzido, um valor que as pessoas podem ganhar em dois ou três anos, estando no activo”, afirma à Renascença.

“Sempre dissemos que, se a ideia do Governo era levar um conjunto significativo de professores a aderir a esta medida, tinha de ter condições mais atractivas. Não foram e estão cerca de dois mil professores, o que não representa muito no universo de milhares de professores que temos”, acrescenta.

Lucinda Dâmaso diz mesmo não acreditar que o prolongamento do prazo se traduza em muitas mais rescisões.

“A rescisão amigável depende da vontade das pessoas e é óbvio que os professores foram postos perante uma situação que tinha um prazo limite. Não nos parece que faça diferença haver prazo limite ou não, porque a vontade dos professores já foi toda manifestada. Não me parece que o alargamento se vá traduzir em muitas mais manifestações de vontade”, prevê.

O programa para os docentes rescindirem com o Estado está em vigor desde 15 de Novembro. Podem aderir todos os professores com menos de 60 anos.