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"Três em cada 10 empresas não encontram quem precisam para as vagas que têm"

24 jan, 2014 • Carla Caixinha

A oferta das escolas está mesmo desajustada das necessidades que o mercado de trabalho procura? Os jovens têm a formação e orientação devidas quando decidem que profissão querem exercer? Especialistas procuram as respostas num evento que vai debater os problemas do desemprego em Portugal.

Um dos consultores envolvidos no estudo "Emprego em Portugal: Caminhos de Inversão", apresentado este sábado de manhã em Lisboa, afirma que "30% das empresas não encontram quem precisam para as vagas que têm". Em declarações à Renascença, Raul Galamba sublinha que há trabalho a fazer do lado de quem ensina.

"As escolas têm de estar muito atentas às necessidades das empresas: há um 'gap' muito grande entre aquilo que o mercado requer e aquilo que a escola, no sentido lato, está a dar", refere. Por outro lado, Raul Galamba sustenta que as empresas também devem ajustar o seu comportamento. "Têm de se voltar mais para as pessoas. Por exemplo, podem integrar jovens desde muito cedo", acrescenta o especialista, que é consultor da McKinsey.

O estudo foi apresentado este sábado durante a conferência "O trabalho e o emprego em Portugal", organizada pela Associação Cristã de Empresários e Gestores (ACEGE) e marcada para o Centro Cultural de Belém. O presidente da ACEGE, António Pinto Leite, também considera que há uma "disfunção" entre as qualificações dos jovens e o que os empregadores procuram.

"Portugal é o país com o pior ranking na 'intimidade' entre as empresas e a universidade ou as empresas e o ensino secundário. Há aqui um trabalho - que é decisivo - a ser feito", afirma o presidente da ACEGE. António Pinto Leite afirma ainda que um dos pontos detectados a nível nacional e europeu como sendo um contributo para o "desastre" que é o desemprego jovem é a falta de informação e de orientação sobre as carreiras.

Nesse sentido, Raul Galamba diz que a aposta na orientação dos jovens deve começar mais cedo. "Em países como a Suíça e Alemanha, existe um acompanhamento vocacional obrigatório desde os 12 anos, em alguns Estados."

Neste contexto, o presidente da ACEGE sustenta que as empresas devem estar disponíveis para irem às escolas, possibilitando que os seus trabalhadores falem de oportunidades profissionais e da gestão de carreira. "Do inquérito feito, apenas 4% dos jovens portugueses se disseram plenamente satisfeitos e que dirigiram os seus estudos de forma orientada para o mercado de trabalho. É um número que aumenta para 10% a nível europeu, mas é obviamente pouco", refere António Pinto Leite.

O Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, que também esteve presente na conferência, vinca que os números e as projecções têm rostos humanos e que é preciso ter este ponto em consideração quando se analisa as dinâmicas do mercado de trabalho. "Sabemos que este caminho deixa muita gente de fora. É a tal sociedade que exclui, como diz o Papa Francisco, que usou até uma expressão mais dura: 'Esta economia mata'. Muitos ficam de fora e até com fome, nalguns pontos do mundo."