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O maior tapete de firmas do mundo? “Vamos lá a isso!”

07 jan, 2014 • Liliana Carona

É com entusiasmo que as mulheres de uma aldeia de Viseu respondem ao desafio lançado pela directora da Oficina do Linho. Nesta arte feminina, só entra um homem.

Várzea de Calde, em Viseu, é conhecida por Aldeia das Tecedeiras. Reúne as melhores da região – mulheres que passaram de geração em geração o saber dos teares onde se tecem os panos em linho e os tapetes ou mantas de firmas.

Agora, o Museu Etnográfico, em colaboração com a Cooperativa do Linho, quer fazer o maior tapete de firmas do mundo, para entrar no Livro do Guiness.

A proposta é da directora da Casa de Lavoura e Oficina do Linho, Raquel Greenleaf, e caiu que nem ginjas entre as tecedeiras.

“Bom dia, Goreti, viemos desafiá-la para constituir o maior tapete/manta de firmas”, avança Raquel Grenleaf. Goreti Gonçalves sorri à proposta e diz: “Vamos lá a isso, eu estou entusiasmada”.

A jovem directora, rosto brilhante e bem-disposta, convive tu cá tu lá com as tecedeiras e quer homenageá-las. Vai batendo à porta de cada uma das que colaboram com a cooperativa e deixa o convite.

“Têm sido fantásticas. O trabalho que diariamente elaboram… Gostava, de facto, de propor a constituição do maior tapete de firmas do mundo ao Guiness”, assume.

São mulheres e só mulheres que tecem ora as mantas, ora os tapetes de firmas ou o linho. Goreti Gonçalves, com 44 anos está desempregada e vive da sua arte.

“É uma forma de me sustentar, já que emprego não há. E quando a gente gosta, não se cansa”, reconhece.

Neste assunto de mulheres só entra um homem: José Costa, de 77 anos, artesão. Faz os teares. “Um tear faz-se trabalhando. Dá para fazer tapetes de firmas, tapetes de lã, tecer linho, mantas, burel, é uma arte para uma certa habilidade”, explica com orgulho à Renascença.

A emigração levou da aldeia algumas tecedeiras, mas os dinheiros que vieram da União Europeia chegaram para cursos de tecelagem, que ensinaram as mulheres da aldeia que não sabiam tecer.

Isabel Souto, 48 anos, mostra com orgulho o diploma. “Certifica-se que Isabel Souto concluiu com aproveitamento o curso manográfico do linho, promovido pelo ADRL, Associação de Desenvolvimento Rural de Lafões, que decorreu de 6 de Maio de 2004, a 30 de Dezembro de 2004”, lê em voz alta, acrescentado: “Aprendi muita coisa, que eu nem julgava aprender”.

Brilhantina Gonçalves é mais velha. Aos 65 anos explica como se fazem os tapetes de firmas: “A minha mãe fazia com a roupa velha sem conserto. Cortava-se e faziam-se as firmas. Urdia e começava a tecer com as firmas”, recorda.

Alcina Campos tem 57 anos e também ela tem um tear debaixo de casa, numa loja, como todas as outras virado para onde o sol nasce. Diz que os tapetes servem “para termos os pés quentinhos.

Todas estas mulheres vivem do que a terra e o artesanato lhes dá. Agarram o desafio lançado pela directora e uma delas até diz que “gostava que [o maior tapete de firmas do mundo] fosse cor-de-rosa. Somos mulheres”.