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O que queriam e não têm

05 dez, 2013 • Cristina Nascimento

Professores contratados estão contra a prova de avaliação de conhecimentos determinada pelo Governo. Esta quinta-feira, contestaram a decisão numa manifestação da Fenprof junto ao Parlamento.

O que queriam e não têm

Alberto Baptista é professor há 21 anos e manifestante em Lisboa há poucas horas. Socorreu-se de uma boleia prestada pelo Sindicato dos Professores do Norte e foi ao Parlamento contestar o que lhe inquieta. "Tinha de ser. Chegámos ao fim da linha e tinha de vir."

Nunca se tinha manifestado diante da Assembleia da República e decidiu que esta quinta-feira não podia suceder como antes: opõe-se à prova de avaliação de conhecimentos para os professores contratados com menos de cinco anos de serviço, ele que não tem de fazê-la; contesta o ministro Nuno Crato, com o qual se desiludiu. Por isso, juntou-se a mais e foi ao Parlamento pronunciar o desagrado pelo que queria e não tem. 

"Nuno Crato em quase nada veio a cumprir aquilo que era anunciado nas suas intervenções públicas antes de ser ministro. É lamentável", diz Alberto. Natural do Porto, 52 anos, é professor do ensino secundário e já deu aulas de Psicologia e Filosofia, sempre como professor contratado. Este ano, e pela primeira vez, o mês de Setembro não lhe disponibilizou colocação.

"Neste momento, tenho um subsídio de desemprego que corresponde ao salário que eu poderia ter se estivesse a trabalhar. Eu não sei que vantagem tem o país em pagar pela via da segurança social aquilo que podia estar a pagar a um profissional no activo. Não compreendo."

Alberto também não observa validade na prova de avaliação de conhecimentos para os docentes contratados  - inicialmente, tinha de ser realizada por todos; posteriormente, o Governo recuou e só tem de ser cumprida por quem tem menos de cinco anos de serviço. Alberto foi dispensado do exame, mas não se dispensa da crítica.

"A prova de avaliação dos conhecimentos é injusta, absurda e onerosa. Não traz nenhuma vantagem para o sistema. Não tem sentido para os mais velhos, mas também não tem sentido para os mais novos."

Liliana Freire é um dos mais novos. Tem 27 anos e é do Marco de Canaveses. Enquanto professora do primeiro ciclo, já esteve colocada perto de casa, mas também em Odivelas. Nos últimos anos, tem ensinado em Ponte de Lima. A 18 de Dezembro, vai ter de fazer a prova de avaliação de conhecimentos, que contesta. Juntou-se a Alberto Baptista e aos demais que se manifestaram esta quinta-feira junto ao Parlamento.

"Tive um ano nas actividades de enriquecimento curricular e depois fui colocada a fazer substituições, ou seja, não consegui ter os cinco anos de experiência exigidos [para ser dispensada da prova]. Estou quase, mas não chego lá." Sente-se injustiçada por ter de fazer o exame e diz que tem investido na formação - além de um curso superior, já tirou uma especialização e um mestrado em educação especial.

"Estivemos anos a lutar, a não dormir, para termos uma boa nota, para termos uma boa graduação… Para quê? Estou aqui a lutar pela minha causa e tenho pena que não sejam mais." 

Além da contestação à prova, Liliana lamenta a inconstância da profissão que assumiu. "Se tivesse uma vida mais estável, provavelmente já tinha filhos."