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Quanto vale mais uma hora de trabalho?

27 set, 2013 • Teresa Almeida

A Renascença foi conhecer quatro casos de famílias, onde trabalhar mais uma hora por dia vai obrigar a uma reorganização de toda a rotina e até a mais gastos. A lei das 40 horas semanais entra em vigor no sábado.

Quanto vale mais uma hora de trabalho?
Numa primeira leitura, trabalhar mais uma hora por dia são apenas mais 60 minutos, mas no dia-a-dia de milhares de funcionários públicos, as implicações desse tempo extra são elevadas. Obriga a reorganizar toda a vida e pensar em novas rotinas.

A Renascença foi conhecer quatro casos reais, quatro vidas diferentes, onde mais uma hora de trabalho por dia vai ter efeitos concretos.

João Lopes tem dois filhos pequenos, “ainda no ciclo”, e diz que agora tudo se complicou. “Até aqui, os horários eram compatíveis com a escola deles”, mas agora “vou ter de arranjar um prolongamento ou alguém que os vá buscar”.

A mulher também trabalha e com horários diferentes dos dele, pelo que se tiver de optar pelo prolongamento sabe que lhe vai sair do bolso: “Se tiver que pagar mais uma hora que seja, sei que me vai custar dinheiro”, lamenta.

Para quem tem filhos já na faculdade, a vida também se complica. É o caso de Susana Sousa, cujos filhos são estudantes universitários nocturnos. “Moro longe do meu local de trabalho. A mais de 50 quilómetros. Vou apanhar muito mais trânsito e não chego a tempo de lhes fazer o jantar para seguirem para a faculdade”.

Como vão passar a comer na universidade, Susana já sabe que “vai ficar tudo mais caro”, até pelo gasóleo que vai gastar nas filas de carros.

Também com um filho, mas adolescente (15 anos) e viúva, Carla Torres, outra funcionária pública, concluiu que vai ter de cortar nas actividades extracurriculares. E ambos vão ser afectados.

“Até agora, tinha tempo de sair e de ir buscá-lo à escola, levá-lo às actividades extracurriculares, ao futebol, ao ginásio e à piscina.” Agora, “ele vai ter de deixar de ir ao ginásio e à piscina e fica apenas com o futebol. E mesmo assim não vai ser fácil”, afirma.

Mais fácil, pode parecer a vida de Paula Ribeiro. Com vontade de ir para a reforma, sem filhos ou marido, também vai ter de abdicar de algumas coisas. “Eu faço ioga, por exemplo, e no horário que me fica disponível já não posso ir”.

Paula explica que a aula “é muito importante, porque me ajuda imenso no meu trabalho, no dia seguinte”. “Trabalhar com o público stressa-me muito e preciso destes momentos de relaxamento para trabalhar melhor”, adianta.

Fica assim claro que mais uma hora de serviço por dia não é apenas mais uma hora, mas uma alteração da organização pessoal da vida e das finanças dos funcionários públicos.