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Há uma linha que separa os negócios da política?

16 jul, 2013 • Sandra Afonso

Livro "Os Privilegiados", do jornalista Gustavo Sampaio, descreve como os políticos e ex-políticos gerem interesses, movem influências e beneficiam de direitos adquiridos.

Há uma linha que separa os negócios da política?

Mais de metade dos deputados têm outros cargos no sector privado e 16 das 20 empresas do principal índice bolsista têm ex-políticos na administração. Estes são alguns exemplos referidos no livro "Os Privilegiados", que vai ser apresentado esta quarta-feira.

Um trabalho do jornalista Gustavo Sampaio, que descreve como os políticos e ex-políticos gerem interesses, movem influências e beneficiam de direitos adquiridos.

Os conflitos de interesses entre a política e os negócios começam logo na casa da democracia. Em 230 deputados, 117 acumulam outros cargos, dezenas são remunerados por empresas que beneficiam de iniciativas legislativas, subsídios ou contratos adjudicados por empresas públicas. Há ainda quem trabalhe para empresas fiscalizadas por comissões parlamentares onde participam, explica Gustavo Sampaio.

O jornalista chama-lhes "políticos em part-time". Depois há os ex-políticos, que passam dos corredores do poder para os conselhos de administração. Das 20 empresas cotadas no principal índice bolsista, 16 têm ex-políticos na administração.

“São cerca de 50 cargos ocupados por ex-políticos”, refere. Entre eles há cinco ex-governantes em bancos, empresas do sector da energia, comunicações e multimédia.

O livro "Os Privilegiados" descreve ainda como surgiram e como funcionam as subvenções vitalícias dos políticos.

“Essa legislação foi criada numa altura em que Portugal estava sob assistência financeira do FMI. Na altura com um Governo de bloco central, a subvenção aos 60 anos duplica de valor. As subvenções foram revogadas em 2005, mas o número de beneficiários continua a aumentar. Com a pressão da imprensa, os dados dos beneficiários passaram a ser secretos”, explica Gustavo Sampaio.

Esta pesquisa chega ainda ao actual Governo, que prometeu nomeações transparentes e por mérito, e colocou cerca de 140 militantes do PSD e do CDS em cargos de direcção da administração pública.

O livro termina com um olhar para outros países europeus. O autor cita deputados suecos, dinamarqueses e britânicos, que dizem não ter tempo para acumular cargos, porque a política ocupa-lhes toda a agenda.