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Crise pode abrir espaço a uma economia de comunhão

12 jul, 2013 • Liliana Monteiro

Professor Luigino Bruni esteve em Lisboa a defender uma mudança de paradigma, que passe por uma maior intervenção da sociedade civil. O modelo deverá assentar mais em cooperativas, onde "os lucros são reinvestidos e não vão para os bolsos do empresário".

A crise económica está a começar a empurrar o Estado para fora de áreas públicas, como as da saúde e daa educação,  que dominou, ao longo de décadas. A análise é feita por Luigino Bruni, professor universitário responsável pela Comissão Internacional de Economia de Comunhão.

Num debate sobre a economia de comunhão na Europa, realizado esta quinta-feira, em Lisboa, numa iniciativa do movimento "Juntos pela Europa", Luigino Bruni foi claro: a sociedade civil deve começar a tomar conta de algumas áreas fundamentais.

“Esta crise está a fazer retroceder o Estado e deixa um terreno livre. O problema é quem vai ocupar este terreno. É que não existe só o Estado e o mercado capitalista. A história europeia tem uma terceira perna, que se chama sociedade civil, organizada em economia. Quer dizer que, diante de uma escola ou da saúde, é uma economia cooperativa e de comunhão. Numa cooperativa, os lucros são reinvestidos na cooperativa e não vão para os bolsos do empresário”, sublinhou.

Luigino Bruni destaca que a crise é económica, mas também é uma crise de trabalho. A vertente prática está cada vez mais de fora da formação dos mais jovens e é preciso mudar isso, de modo a formar uma nova mentalidade em tempos de crise.

“Todas as escolas superiores e, sobretudo, o liceu têm dificuldades em formar pessoas adaptadas ao mundo de hoje. Nos jovens, não existe o conceito de trabalho. O jovem faz o liceu e a universidade, arriscando chegar aos 25 anos sem saber o que é o trabalho. Porque é que um jovem de 16 anos não pode trabalhar alguns meses por ano, enquanto está a estudar? Quando sai da universidade, não sabe o que é o trabalho, porque nunca passou por ele”, argumenta.

Também às empresas cabe, nesta altura, dar uma atenção particular aos trabalhadores e promover o diálogo construtivo, tanto com os que saem como com oss que ficam.

E como podem as famílias viver com pouco dinheiro? Luigino Bruni diz que a economia de comunhão é uma saída. “É preciso que as pessoas se ajudem sem ter de pagar”, defende.

O professor universitário italiano deixou ainda uma mensagem aos portugueses: “Hoje, Portugal vive uma crise dura, mas também tem recursos enormes. Não se sai de uma crise se não houver auto-estima. Como país em crise, se pensarmos que somos só um problema, uma economia que não funciona, uma cultura perdedora, desta crise não vamos sair”.

A conferência “Uma Economia de Comunhão na Europa”, realizada esta quinta-feira no ISEG, em Lisboa, foi promovida pelo movimento "Juntos pela Europa", que congrega mais de 240 movimentos e comunidades cristãs.