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"A história dos vistos é uma história feliz"

24 jun, 2013 • Liliana Carona

Refugiados da II Guerra Mundial estiveram em Portugal para prestar homenagem a Aristides Sousa Mendes, que salvou milhares de judeus do Holocausto.

"A história dos vistos é uma história feliz"

Cerca de 40 refugiados da II Guerra Mundial, salvos por Aristides de Sousa Mendes, estiveram ao longo desta semana a percorrer localidades do país, marcantes no passado de fuga para Portugal. A Renascença foi ao encontro da comitiva em Cabanas de Viriato, local onde está patente um mini-museu temporário, dedicado ao cônsul de Bordéus, e da autoria de um dos sobreviventes.

Trinta mil vistos, 30 mil vidas salvas, das garras do Hitler pelas mão de Aristides de Sousa Mendes. Algumas dessas vidas quiseram homenagear o diplomata na sua própria casa em Cabanas de Viriato. Um deles foi Eric Moed, o jovem arquitecto de 25 anos, que inaugurou uma exposição dedicada ao cônsul de Bordéus.

“São três pavilhões, e estão revestidos com 30 mil assinaturas, e no interior há fotos da família do cônsul de Bordéus, e da sua vida”, aponta o autor da instalação artística, minutos antes da sua inauguração em Cabanas de Viriato.

Para o arquitecto americano Eric Moed, descendente de judeus belgas, a exposição que construiu em Cabanas de Viriato tem dois sentidos, “um agradecer a Aristides e a sua família pelo sofrimento que tiveram de encarar pela decisão de Aristides e, segundo, celebrar a vida”, acrescenta.

Eric Moed é neto de um refugiado salvo por Aristides de Sousa Mendes. Lion Moed, 81 anos. “Ele deu-me vistos para mim e para a mim família, para sair da França para Portugal, foi assim que nos salvou”, recorda, o também arquitecto.

Três gerações de arquitectos salvos por Aristides de Sousa Mendes. E não são os únicos a querer prestar homenagem. Joan Halperin, judia, de olhos azuis, cabelo escuro, também agradece. “Aristides deu-me a vida, é tão simples quanto isso, a minha mãe, pai, irmã, tia e tio e avó foram salvas por ele, por que receberam vistos em Bordeaux em 20 de Junho de 1940, eu sei que foi nesse dia, porque a minha tia me disse que havia uma chuva torrencial, exagerada nesse dia”, recorda, com mágoa no olhar. “Eramos uma família judia polaca a viver em Bruxelas”, adiciona.

Joan Halperin, 68 anos, é professora reformada, em Nova Iorque e conta o motivo que a fez deslocar-se a Portugal. “Salazar não ganhou, a sua intenção era apagar Aristides da memória do povo português, mas não conseguiu, e estamos aqui para provar isso hoje em frente da Casa do Passal”, endurece o tom da voz.

Também Jennifer Hardoug, 50 anos, linguista em Toronto, fez questão de conhecer Cabanas de Viriato, porque Aristides faz parte de um capítulo feliz, de uma história triste. “Ele salvou os meus avós, os meus tios, menos o meu pai, que conseguiu escapar sozinho de um campo de concentração, mas quando saiu tinha a sua família à espera, porque Aristides nos tinha salvo, ao resto da família”. “A história dos vistos é uma história feliz”, conclui.

Os sobreviventes e descendentes dos refugiados do Holocausto salvos por Aristides de Sousa Mendes, rezaram juntos uma oração judaica, para agradecer a desobediência do Cônsul de Bordéus.