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O Portugal de hoje lido nos Lusíadas

10 jun, 2013 • Matilde Torres Pereira

Nove portugueses e um estrangeiro entre nós aceitaram o desafio da Renascença: pegar na obra que celebrou Camões e escolher uma estrofe que se aplique ao Portugal de hoje.

O Portugal de hoje lido nos Lusíadas
Um pensionista, uma antiga ministra, um ministro em funções, uma desempregada, um funcionário público, uma trabalhadora do sector privado, um músico, uma aluna do 9º ano, um holandês e um empresário pegaram nos Lusíadas e lançaram-se na empreitada de procurar, em versos escritos há centenas de anos, palavras que ecoassem nos dias de hoje. O resultado é uma viagem plena de esperanças, tormentas, maravilhas e Adamastores, uma tentativa de redesenhar o desígnio dos lusos a quem Luís Vaz de Camões dedicou a obra de uma vida.



MANUEL DINIZ • PENSIONISTA • 68 anos

CANTO VII • ESTROFE 86
"Nem quem acha que é justo e que é direito
Guardar-se a lei do Rei severamente,
E não acha que é justo e bom respeito,
Que se pague o suor da servil gente;
Razões aprende, e cuida que é prudente,
Para taxar, com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios, que não passa"

Reformado há 13 anos, com uma pensão de 693 euros que descreve ironicamente como "privilegiada", o antigo marceneiro Manuel Diniz foi estudar "Os Lusíadas" pela primeira vez à procura de uma estrofe com a qual se identificasse. Parou no Canto VII e, com a ajuda de um manual de José Hermano Saraiva, decidiu "traduzir" as palavras de Camões para um português mais actual - pegou na estrofe que escolheu e refê-la.

"O Governo entende que é justo e um direito cumprir normas legislativas severas, e não acha que tem obrigação moral de pagar o trabalho de gente que o serve. Nem que seja com inexperiente conhecimento, pensa que tem razão e pensa que é competente, para taxar e roubar aos poucos, os trabalhos alheios que não experimentou ou não conhece a dificuldade", recita, a custo. "Penso que isto condiz com o que está a acontecer neste momento."

Manuel Diniz começou a "trabalhar na madeira" aos 11 anos e a descontar para o Estado aos 14. Um acidente num jogo de futebol deixou-o com um braço magoado e entrou como contínuo para os serviços centrais da Direcção-Geral de Saúde, em Lisboa. Hoje, está na direcção da Associação Nacional de Aposentados Pensionistas e Reformados, cujo último inscrito ficou com o número "18 mil e qualquer coisa". O número sai-lhe com um encolher de ombros, porque "alguns já morreram."

"Lá, na Associação, o 'Gasparzinho' uma vez disse que estávamos numa maratona, que íamos no 27º quilómetro e que íamos conseguir. Ele esqueceu-se que já houve um português que morreu numa maratona: o Francisco Lázaro."




ISABEL ALÇADA • EX-MINISTRA DA EDUCAÇÃO • 63 anos

CANTO VII • ESTROFE 86
"Já a vista pouco e pouco se desterra
Daqueles pátrios montes que ficavam,
Ficava o caro Tejo, e a fresca serra,
De Sintra, e nela os olhos se alongavam.
Ficava-nos também na amada terra
O coração, que as mágoas lá deixavam;
E já depois que toda se escondeu,
Não vimos mais enfim que mar e céu."

Foi há dois anos que a antecessora de Nuno Crato deixou o cargo no Ministério da Educação. Hoje, a professora e autora Isabel Alçada prefere olhar o país de Camões apenas como "cidadã". "Isto engloba professora, mãe, avó, mulher, determinado tipo de convicções, o percurso profissional, tudo."

A escolha da estância foi imediata, conta, folheando uma edição de "Os Lusíadas" sentada num gabinete emprestado numa faculdade em Lisboa. "Trata obviamente de um momento em que pessoas vão partir da sua terra. No caso de Vasco da Gama, ia partir com a sua Armada com uma perspectiva de futuro, mas, obviamente, as pessoas que iam não sabiam se regressavam."

"Estamos num momento histórico em que voltamos a ter emigrantes. São jovens preparados a quem demos uma educação longa. São pessoas inteligentes e cultas, capazes de fazer um trabalho magnífico", afirma, emocionada.

"Não estamos a conseguir encontrar soluções neste momento para dar, aos jovens em particular, o lugar que naturalmente têm expectativa de ocupar na sua própria terra."

Apesar de desiludida com o que julgava ser um problema ultrapassado - a emigração "forçada" -, Isabel Alçada continua confiante. "Acredito que nunca um povo está perante um impasse e que os portugueses têm energia e força para encontrar o seu destino. Aprendi de pequena com o meu pai que quando alguém diz 'só há uma solução', essa pessoa está errada."




GEERT SILLEVIS • GESTOR TURÍSTICO • 26 anos

CANTO VII • ESTROFE 55
"Os Portugueses vendo estas memórias,
Dizia o Catual ao Capitão:
"Tempo cedo virá que outras vitórias
Estas, que agora olhais, abaterão;
Aqui se escreverão novas histórias
Por gentes estrangeiras que virão;
Que os nossos sábios magos o alcançaram
Quando o tempo futuro especularam."

O nome pronuncia-se "Grreart", mais ou menos. Geert Sillevis é holandês e o último de quatro irmãos. Ao todo, já passou 19 anos a viver em Portugal, fala inglês fluente, português com sotaque "estrangeiro" e holandês só aprendeu quando voltou a Amesterdão para tirar o curso.

"Há muita coisa que Portugal e a Holanda têm em comum, esta História de exploradores, dos Descobrimentos, de grandes navios e aventuras."

Como gestor e guionista de visitas guiadas, tem o objectivo de "informar e ensinar" quem visita Lisboa, mas também de as divertir, sublinha. "A economia está mal, mas se tudo está 'partido', ainda temos a beleza da natureza, a História, há sempre razões para vir cá."

Na escolha de uma estrofe dos Lusíadas, traz o optimismo de quem está ao mesmo tempo dentro e fora. "As pessoas estão a ficar mais pessimistas, estão a ficar com medo do futuro e parece que aqui a promessa nunca acontece. Portugal tem uma parte muito importante na História, mas também no futuro, e como dizem os 'sábios magos', o futuro ainda não chegou", refere.

"Como se diz em inglês, 'it'll all be alright in the end, and if it's not alright, then it's not the end'."




PAULO PORTAS • MIN. NEGÓCIOS ESTRANGEIROS • 50 ANOS

CANTO IV • ESTROFE 15
—"Como! Da gente ilustre Portuguesa
Há-de haver quem recuse o pátrio Marte?,
Como! Desta província, que princesa
Foi das gentes na guerra em toda a parte,
Há-de sair quem negue ter defesa?
Quem negue a Fé, o amor, o esforço e arte
De Português, e por nenhum respeito
O próprio Reino queira ver sujeito?"

Foi uma proposta a que acudiu prontamente, escolher uma estrofe "do maior livro jamais escrito em português". Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros, líder do CDS e cara-metade da coligação governamental, ficou no Canto IV, diz, "porque é uma alusão à melancolia de D. Nuno Álvares Pereira antes da Batalha de Aljubarrota, quando viu que algumas elites portuguesas não queriam defender o país perante o estrangeiro".

"A evocação que quero fazer é de um patriotismo que é de todos e é o de sempre", explica. "A metáfora cada um entenderá como entender."

Desde que assumiu a liderança da política externa portuguesa em 2011, Paulo Portas tem carregado na tónica da diplomacia económica. Propôs que as embaixadas de Portugal no estrangeiro se tornassem gradualmente locais onde se apresentam os produtos nacionais. E ainda faz sentido evocar Camões perante o exterior?

"Absolutamente, porque é o maior autor de uma das línguas mais competitivas e mais globais do nosso tempo", responde. "É hoje falado por muito mais de 200 milhões de pessoas. Olhando para as taxas de crescimento demográfico de países como o Brasil, Angola ou Moçambique, é uma das línguas vencedoras na globalização", sustenta

"Promover internacionalmente o português tem um valor económico, mas também, e acima de tudo, um legado cultural que nos une a todos."




LUÍSA LOURO • DESEMPREGADA • 52 ANOS

CANTO VIII • ESTROFE 31
"Mas olha com que santa confiança,
— Que inda não era tempo, — respondia,
Como quem tinha em Deus a seguraria
Da vitória que logo lhe daria.
Assim Pompílio, ouvindo que a possança
Dos inimigos a terra lhe corria,
A quem lhe a dura nova estava dando,
—"Pois eu, responde, estou sacrificando."

Restauradora de formação, Luísa Louro há muito que tem "o espírito de andar sempre à procura das oportunidades". Quando decidiu ser mãe, os produtos químicos que utilizava obrigaram a substituir as porcelanas pelas pinturas decorativas. Tem "pulado de uma profissão para outra", até que, há quase dois anos, foi despedida do laboratório de próteses dentárias onde trabalhava.

"Foi exactamente quando as coisas começaram a piorar. Entreguei, entreguei, entreguei currículos, tudo a pé, em vez de enviar por computador, que achei que é o que um milhão de desempregados faz." Esgotados os sítios onde podia candidatar-se presencialmente, passou então a enviar por "e-mail". "Vou dando os passos, na esperança de que me traga qualquer coisa."

Tendo passado já pelo Brasil, Inglaterra e Estados Unidos, Luísa Louro constata já ter visto fora o que está agora a acontecer em Portugal. Em Lisboa, que é casa, fala em "saudade de quando as coisas eram diferentes" e sublinha que sente "solidão", mas também esperança. Foi esta dicotomia que quis ilustrar com a passagem de "Os Lusíadas" que escolheu.

"Estamos numa época de mudança - parece estar tudo bloqueado. Parece, porque as coisas têm de se trabalhar num caminho novo. Essa espera dói, principalmente a quem tem mais dificuldades."

É no Canto VIII, que recorda a História de Portugal, que encontra actualidade. "Esta estrofe mostra a confiança que temos em nós próprios e a fé que temos. Isso é notório na grande parte do povo português e na capacidade que tem para aguentar a aspereza da vida."




LIMA COELHO • sargento-chefe da força aérea• 53 ANOS

CANTO III • ESTROFE 138
"Do justo e duro Pedro nasce o brando,
(Vede da natureza o desconcerto!)
Remisso, e sem cuidado algum, Fernando,
Que todo o Reino pôs em muito aperto:
Que, vindo o Castelhano devastando
As terras sem defesa, esteve perto
De destruir-se o Reino totalmente;
Que um fraco Rei faz fraca a forte gente."

António Lima Coelho nasceu em Cabinda, Angola. Em 1975, um ano depois da Revolução dos Cravos, veio para Portugal. Três anos depois, alistou-se nas Forças Armadas, inspirado pelo "acto de amor" dos militares do 25 de Abril. Curiosamente, é na história de amor entre D. Pedro e D. Inês de Castro, conforme é narrada por Camões, que António Lima Coelho se prende numa analogia com o país de hoje.

É no Martinho da Arcada, onde se sentou outrora outro vulto da literatura portuguesa, Fernando Pessoa, que se fala de Camões, de Portugal e da estrofe escolhida. "Seria óbvio que eu enveredasse pelo caminho marítimo para a Índia ou até pela Batalha de Aljubarrota, onde se fala da protecção da independência. Toca-me muito mais o amor de Pedro e Inês, o tal amor ilícito que levou a que Inês fosse assassinada e a que Pedro, quando tomou a governança, tenha feito uma limpeza e tenha sido muito duro na justiça", explica.

"Infelizmente, sucedendo-lhe D. Fernando, as coisas entraram num descalabro. Vejo aqui uma grande analogia com o que tivemos com a revolução de Abril, com o alcançar de uma série de direitos sociais que depois os 'Dons Fernandos', não por moleza, mas por outros objectivos que um dia a História bem explicará, foram levando o país a esta situação que hoje vivemos de quase perda de soberania", afirma.

"Como militar, a perda de soberania fere-me muito. Costumo dizer que aquilo que alguns povos não conseguiram por força das armas ao longo dos séculos, podem estar tentados a fazê-lo pela via económica, que é gravíssimo."




ASSUNÇÃO VELASCO • Assistente de CONSULTÓRIO • 27 ANOS

CANTO V • ESTROFE 66
"Daqui fomos cortando muitos dias
Entre tormentas tristes e bonanças,
No largo mar fazendo novas vias,
Só conduzidos de árduas esperanças.
Co mar um tempo andamos em porfias,
Que, como tudo nele são mudanças.
Corrente nele achamos tão possante
Que passar não deixava por diante."

Eis que surge o Adamastor. Para Maria da Assunção Velasco, a pouco mais de um mês de concluir o curso de enfermagem, a viagem entre o trabalho numa clínica privada e as exigências da licenciatura têm sido repletas de "maravilhas e tormentas".

"Passamos por vários obstáculos, estudos, exames, chumbos, e finalmente chegamos ao fim, mas estamos novamente noutro obstáculo e encontramos um Adamastor, exactamente como a Armada encontrou." É a "incerteza do futuro", que equipara à de Vasco da Gama na dobragem do Cabo das Tormentas, rumo a Melinde. Porquê?

O emprego na clínica está seguro - por agora -, mas o sonho é pegar na licenciatura e agarrar uma vaga para instrumentista no bloco operatório de um hospital. Maria da Assunção Velasco acredita que o vai conseguir em Portugal. "Como a viagem que os portugueses fizeram, em que foram enganados em terra quando atracaram e ao longo da qual encontraram tempestades enormes, é todo um caminho de maravilhas, horrores, ansiedades e tormentas."

Mas há boas-novas. "As maravilhas são estas: ter chegado ao fim do curso, ter conseguido estar aqui e sentir que posso ficar. Somos jovens e acho que esse é o nosso dever."




MANUEL FÚRIA • MÚSICO • 30 anos

CANTO I • ESTROFE 3
"Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandro e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram:
Cesse tudo o que a Musa antígua canta,
Que outro valor mais alto se alevanta."

"Contemplar os lírios do campo" é o mote do último álbum de Manuel Fúria, cantor, compositor e fundador da editora Amor Fúria. Com a Cruz de Cristo ao peito e um livro de Almada Negreiros debaixo do braço, a apologia por um Portugal glorioso é marca das suas canções. Acerta na estrofe que quer apresentar logo na primeira página de "Os Lusíadas".

"Esta estrofe manda um bocado à fava tudo o que é estrangeiro e isso é uma coisa que nos interessa. Acho que nos fazia bem termos a lata que o Luís Vaz de Camões teve quando escreveu isto, quando disse 'que se lixe os gregos e os troianos'. E as coisas grandes que fizeram? Nós fizemos coisas muito melhores", afirma, enquanto toma uma bebida numa esplanada com vista para o Tejo.

"Faz-me um bocado confusão esta mania de só nos conseguirmos justificar na medida da aprovação de um estrangeiro." O resgate financeiro a Portugal e a tutela económica da "troika" estão nas entrelinhas, mas para Manuel Fúria o problema vem de trás - e já o cantava Camões.

"Vai-se manifestando em cada época e em cada geração de maneiras distintas. Desde o D. João V a querer ser igual ao Luís XV, até ao Passos Coelho a prestar vassalagem à Angela Merkel, ou no meu caso, que sou da música, às bandas que fingem que são americanas em vez de serem portugueses", exemplifica.

"Valores mais altos se levantam", aponta, citando o poeta. "Não estou a falar sobre circunstâncias económicas e políticas, não estou a falar sobre crise, sobre ter mais ou menos dinheiro agora, isso não me interessa muito." Correcção: "Interessa-me, mas para a eternidade interessa-me pouco".




MADALENA RAVARA • ALUNA DO 9º ANO • 15 anos

CANTO VI • ESTROFE 95
"Por meio destes hórridos perigos,
Destes trabalhos graves e temores,
Alcançam os que são de fama amigos
As honras imortais e graus maiores:
Não encostados sempre nos antigos
Troncos nobres de seus antecessores;
Não nos leitos dourados, entre os finos
Animais de Moscóvia zebelinos;"

É no 9º ano que os alunos portugueses se deparam na escola com "Os Lusíadas". Com a memória fresca das aulas, Madalena Ravara admite timidamente que gosta de estudar, embora as disciplinas preferidas sejam Matemática e Ciências. Mesmo com o Português fora das preferências, a lição vem bem estudada quando se trata de encontrar uma estrofe que enquadre os seus planos de futuro.

"O poeta está a glorificar os feitos da Armada portuguesa, que conseguiu com valentia e coragem ultrapassar enormes perigos e navegar por mares nunca antes navegados", diz a aluna da Escola Secundária Rainha Dona Amélia. "É importante, mais do que nunca, nós sabermos tomar a iniciativa e não nos encostarmos 'nos antigos troncos nobres dos nossos antecessores''", defende.

Madalena Ravara sabe que os dias vão difíceis, mas nem por isso desanima. "Nós estamos sempre a ouvir que somos a Geração à Rasca, não é? Acho que devemos desenrascar-nos. Mudar o que todas as pessoas pensam que nos vai acontecer: que vamos ser desempregados e que não vamos ter como nos sustentar. Temos de lutar contra esse destino já traçado por todas essas pessoas."

E Madalena é de pensamento firme. "Não devemos, primeiro, tomar tudo por garantido, não devemos contentar-nos com aquilo que é nosso por nascimento. Nada é garantido. Num dia podemos ter tudo e no outro ter nada."




ANTÓNIO CÂMARA • presidente DA YDREAMS • 59 anos

CANTO X • ESTROFE 142
"Até'aqui Portugueses concedido
Vos é saberdes os futuros feitos
Que, pelo mar que já deixais sabido,
Virão fazer barões de fortes peitos.
Agora, pois que tendes aprendido
Trabalhos que vos façam ser aceitos
As eternas esposas e fermosas,
Que coroas vos tecem gloriosas."

Foi no "espírito de 'Os Lusíadas', de explorar e conquistar o mundo", que António Câmara fundou em 2000 uma empresa na vanguarda da tecnologia, hoje presente em 25 países. Sempre optimista quanto ao potencial do país, o empresário imagina que se tivesse oportunidade de se cruzar com Luís Vaz de Camões, "de algum modo iria percebê-lo muito bem", em especial no que toca à alusão, no Canto IX, ao Velho do Restelo.

"Infelizmente, hoje é dominante. É quase impossível triunfar se o espírito geral é o negativo, pessimista e destrutivo do Velho do Restelo. Por isso, 'Os Lusíadas' continuam extremamente actuais."

O canto do pessimista é apenas ponto de partida para o que, na opinião de António Câmara, é a verdadeira mensagem da epopeia. "Temos é que criar as condições para realizar os feitos que são cantados em todas as outras estrofes e cantos", afirma, preferindo por isso os versos finais da obra, no Canto X, em que a ninfa Tétis apresenta a Vasco da Gama a "Máquina do Mundo".

"Vivemos num mundo que ainda é um pouco desconhecido, mas é emergente; em que qualquer pessoa que tiver uma ideia pode, com muito menor risco e muito menor investimento, levá-la ao mundo. Isso nunca existiu", afirma o empresário.

E para passar além das tormentas actuais, "os próprios Descobrimentos são exemplo". Foi feito um investimento no desconhecido pelos governantes dos séculos XV e XVI e "durante 50 anos não houve retorno". "Também temos de ser pacientes", lembra António Câmara.

"Desde 1986 que estamos a criar as bases para podermos de novo explorar o mundo. Acho que vamos fazê-lo nos próximos 25 anos. Acredito que seja perfeitamente possível Portugal ser de novo um país extraordinariamente importante."



NOTA: ESTE ARTIGO NÃO É VISUALIZADO CORRECTAMENTE NAS APLICAÇÕES MÓVEIS DA RENASCENÇA.