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Há cada vez mais barcos roubados em Portugal

23 mai, 2013 • Celso Paiva Sol

Polícia Marítima não consegue descrever exactamente como se fazem desaparecer barcos, mas sabe onde são denunciados mais casos - Lisboa lidera as participações às autoridades.

São cada vez mais os barcos e os motores fora de borda furtados em Portugal. Em apenas três anos, o aumento foi de 45%, período em que foram levadas 83 embarcações e 289 motores.

Os números de 2012 revelam uma quase duplicação de casos face a 2010, o que tem uma explicação já identificada: são muito procurados no mercado negro da Europa de Leste e é para lá que estão a ser levados.

"Até 2008, 2009, estas embarcações e motores eram furtadas para o tráfico de clandestinos do Norte de África para a Europa", nomeadamente para Espanha, embora alguma emigração ilegal tivesse vindo também para Portugal, diz à Renascença o chefe da divisão de operações e informações da Polícia Marítima, o comandante Mendes Cabeças.

"A partir de 2009, o mercado tomou outro rumo", descreve o comandante. O tráfico faz-se por via terrestre e está actualmente nas mãos de ucranianos.

"Há cerca de dois, três anos, conseguimos desmantelar uma rede que tinha uma cabeça em Madrid, um romeno, que recebia todo este material furtado e a partir de Madrid exportava para países de Leste. Pensámos que tínhamos desmantelado esta rede. No entanto, temos novos infractores ucranianos instalados em Portugal e Espanha", precisa Mendes Cabeças.

Em causa estão embarcações relativamente pequenas, sobretudo veleiros e botes até aos seis metros de comprimento, o que se percebe dada a dificuldade do transporte e o destino que vão ter nos lagos e rios do Leste Europeu.

A Polícia Marítima não consegue descrever exactamente como se fazem desaparecer barcos, mas sabe onde são denunciados mais casos. A zona de Lisboa lidera a lista de participações de furto de embarcações, com 23% dos casos, seguida das zonas de Olhão e Tavira, ambas no Algarve.

O cenário é muito semelhante no capítulo dos motores fora de borda, com as regiões de Lisboa e Algarve a somarem metade dos furtos registados e o destino a ser, em grande parte, a Europa de Leste. Só no ano passado desapareceram 121 motores, a maioria de menor dimensão, entre os 15 e os 25 cavalos.

Ao contrário das embarcações, os motores são furtados em qualquer lugar, mesmo em casa dos proprietários. "Neste mês de Abril tenho dois exemplos - um motor que foi furtado de um alpendre de uma casa de um cidadão holandês que vive no Algarve e de outro cidadão nacional, que tem uma casa também no Algarve", conta o comandante Mendes Cabeças.

A Polícia Marítima garante que o problema está a ser acompanhado e devidamente investigado, não só em Portugal como no conjunto dos países europeus.